As famílias dos três homens que desapareceram no dia 16 de dezembro quando cruzavam de carro uma reserva dos índios tenharim em Humaitá, no sul do Amazonas, querem que o Exército participe das buscas. Os familiares acreditam que os batalhões de infantaria de selva do Comando Militar da Amazônia têm equipes melhor treinadas para realizar buscas em mata fechada. Neste sábado, 4, completa uma semana que a Polícia Federal iniciou a varredura na região, mas ainda não houve resultado prático. “Os familiares estão impacientes e não entendem por que os batalhões especializados do Exército não estão participando das buscas”, disse o advogado Carlos Terrinha, que representa as famílias dos desaparecidos.
Os batalhões de selva são unidades de elite do Exército brasileiro e se orgulham de ter os soldados mais preparados do mundo para operações em floresta. Por serem forças de ação rápida e estratégica, atuam principalmente em áreas de fronteira e têm unidades formadas por índios da região amazônica. Além do preparo militar, os soldados indígenas falam a língua e conhecem os costumes de vários povos. Uma das unidades, o 54º Batalhão de Infantaria de Selva, está sediado em Humaitá. “Não é razoável que, tendo homens tão preparados para operações na selva, o Exército esteja apenas dando suporte às ações da Polícia Federal e controlando o acesso à região”, disse Terrinha.
As buscas visam à localização do professor Stef Pinheiro e de dois amigos, o comerciante Luciano Ferreira Freire e o técnico Aldeney Ribeiro Salvador, que estavam de carro quando desapareceram. O veículo também não foi localizado, levando à suposição de que foram mortos pelos índios. Na noite de quinta-feira, o advogado conversou com o general Ubiratan Poty, comandante da 17ª Brigada de Porto Velho, ao qual é subordinado o batalhão de Humaitá, sobre a entrada do Exército nas buscas na selva. “Ele concordou com o argumento, mas disse que a decisão é superior.” O advogado pretende aproveitar a visita que o general Eduardo Dias da Costa Villas Boas, comandante do Comando Militar da Amazônia, fará à cidade na segunda-feira para tratar do assunto. “Os familiares dos desaparecidos estão muito preocupados, pois as buscas não avançam. A entrada dos cães farejadores na área só ocorreu na quinta-feira e a informação que nos passaram é de que os cães estavam estressados”, contou Terrinha. Ele disse ter entregue à Polícia Federal um croquis da área em que o carro foi visto pela última vez, sendo empurrado por índios, na região do Igarapé Preto. “O problema é a falta de informações, há um silêncio total sobre tudo.”
O general Poty informou que a investigação sobre o desaparecimento dos três civis, em princípio, cabe à Polícia Federal. O trabalho do Exército, definido pelo Ministério da Defesa, é de apoio logístico, comunicação, alojamento, alimentação e orientação dos trabalhos na selva. Para isso, foram montadas bases avançadas ao longo da BR-230. O patrulhamento na rodovia cabe à Polícia Rodoviária Federal. Homens da Força Nacional de Segurança atuam na defesa da reserva e da integridade de quem trafega pela rodovia Transamazônica. O delegado Alexandre Alves, que comanda as buscas, estava na área das buscas e não foi localizado nesta sexta-feira.