Uma carta divulgada ontem pelo prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), reacendeu as desavenças entre ele e o governador Roberto Requião (PMDB), que começaram na campanha eleitoral do ano passado. Sob o título ?Deixe de ser covarde, Requião!?, e assinada pelo prefeito, a mãe Arlete, e os irmãos José e Adriano, a carta foi uma resposta a um comentário feito por Requião durante a escola de governo, quando o governador citou um processo que está respondendo por ter levantado suspeitas sobre uma decisão administrativa tomada por José Richa Filho, que ocupava uma diretoria do DER (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem) no governo anterior.
Na carta, Beto acusa o governador de ferir a imagem de sua família e comunica que irá interpelar judicialmente o governador. Em vários trechos, o prefeito ataca o governador, classificando suas declarações na escola de governo de ?demonstração pública de desequilíbrio?.
No início da noite, o secretário da Casa Civil, Rafael Iatauro, divulgou uma resposta ao prefeito, dizendo que não eram verdadeiros os fatos relatados na carta distribuída por Beto. ?Em nenhum momento, o governador Roberto Requião referiu-se ao pai do prefeito, Beto Richa, o ex-governador José Richa. O governador lamenta que o prefeito Beto Richa tente se colocar como vítima, utilizando-se da imagem de seu pai?, afirmou o secretário.
Origem
O novo conflito entre o governador e o prefeito teve origem em um comentário feito por Requião, no início da escola de governo de ontem. Requião abriu a reunião expressando estranheza com a presença de um oficial de justiça, que esteve no local para citá-lo em uma ação movida pela ex-secretária de Comunicação do governo Lerner e ex-coordenadora de comunicação da campanha de Beto ao governo em 2002, Cila Schulmann. O governador citou que já havia confirmado sua presença na audiência, que já tem data marcada e considerava desnecessária a presença do oficial de Justiça.
Requião explicou aos participantes da reunião as razões do processo. Ele relatou que, quando assumiu o governo, recebeu uma denúncia do DER de que a obra de duplicação do trecho rodoviário Curitiba-Garuva, que havia sido concluída e paga no seu primeiro mandato, teria sido novamente faturada em R$ 10 milhões. Na carta, Iatauro cita que o valor foi liberado pelo DER, onde na época do pagamento trabalhava José Richa Filho. ?Requião mandou apurar a denúncia e recebeu a informação de um empresário de que esta duplicação de pagamento fora para produzir recursos à campanha de Beto Richa ao governo do Paraná, uma engenharia financeira promovida sob orientação dos marqueteiros da campanha do então candidato Beto Richa?, relatou o secretário. Ele acrescentou que o governador mencionou o episódio na escola de governo porque está indignado por ter sido processado, quando é o autor de uma denúncia de irregularidade.
Palanque
Os desentendimentos entre o prefeito e o governador tomaram corpo durante o segundo turno da campanha eleitoral do ano passado. No primeiro turno, Beto manteve-se neutro, mas no segundo turno, seguiu a ala tucana que decidiu declarar apoio ao senador Osmar Dias (PDT), que disputava a eleição com o governador. A entrada de Beto na campanha coincidiu com uma polêmica sobre a extensão das ações do governo do Estado, em Curitiba.