O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), atribuiu a falta de votações no plenário da Câmara e a série de obstruções que ocorreram neste ano na Casa à disputa política entre oposição e aliados e à dificuldade de articulação do governo com a própria base. "Talvez o não-diálogo do governo tenha contribuído", avaliou Chinaglia. Ele sustentou que, antes de o governo partir para uma relação mais próxima com a oposição, deve tratar de sua base. "Tem de começar com o diálogo do governo com a sua base", afirmou.
Com maioria folgada na Câmara, o governo tem condições de controlar as votações e aprovar os temas de seu interesse, desde que a base esteja alinhada e com a orientação clara do presidente da República. Neste ano, houve vários momentos em que o governo demonstrou desarticulação. Um exemplo recente foi a votação da medida provisória que criou o Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania (Pronasci). Para aprovar essa MP na Câmara e limpar a pauta para votar a proposta que prorrogaria a CPMF, que estava em tramitação na Casa, o então líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), negociou com os líderes alterações no texto da MP. Os senadores, no entanto, mudaram o texto aprovado pelos deputados. Na volta à Câmara, o ministro da Justiça, Tarso Genro, exigiu que os deputados mantivessem a texto dos senadores. Múcio bancou a negociação e o ministro foi derrotado.
Em outro momento, o governo conseguiu apoio da maioria na Câmara. Desde o dia 21 de novembro – portanto, há um mês -, por decisão do governo, a base vem se recusando a votar as medidas provisórias que trancam a pauta da Câmara. O motivo era evitar que as MPs seguissem ao Senado e atrapalhassem a votação da proposta da CPMF, rejeitada pelos senadores na semana passada, e do item, aprovado ontem, que permite a Desvinculação das Receitas da União (DRU). A estratégia do governo provocou o recesso parlamentar antecipado para os deputados. Só essa obstrução paralisou 14 sessões plenárias, deixando a Câmara submissa à decisão política do Executivo.
Além dessa última obstrução provocada pela base, a Câmara teve momentos de disputa política que levaram a oposição a impedir as votações no plenário. Nos dois turnos da votação da proposta da CPMF, a oposição, contrária à aprovação, fez obstrução. Em junho quando a proposta de reforma política entrou em discussão, os partidos não se entendiam quanto ao texto e fizeram várias obstruções.
Outra obstrução prolongada na Câmara foi na época em que a oposição quis instalar a CPI do apagão aéreo. Com o impedimento do governo, a questão acabou resolvida no Supremo Tribunal Federal (STF), depois da disputa política na Câmara.
