Exumação de Jango depende de relatório, decidem peritos

No primeiro encontro entre peritos brasileiros e estrangeiros que analisarão os restos mortais de João Goulart (1919-1976), a informação mais aguardada não chegou a ser estabelecida: a data em que o corpo do ex-presidente será exumado e transportado do jazigo da família, em São Borja (RS), para o Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, em Brasília, onde se pretende investigar as causas de sua morte. Ao fim de uma reunião de cinco horas, realizada nesta terça-feira, 17, na sede do INC, autoridades, peritos e familiares chegaram ao consenso de que um relatório pericial ainda precisa ser feito e apresentado em outubro.

Segundo o diretor técnico-científico do instituto, Amaury Souza Jr., que vai liderar o processo pericial, o cronograma para a exumação está mantido mas há diferenças a acomodar quanto aos critérios. “Isso acontece até com um simples exame de sangue. O instituto de um país pode adotar um padrão diverso ao de outro. E, num trabalho em equipe, é preciso estabelecer uma certa harmonia dos procedimentos”, explica Souza Jr. “É um caso difícil. Não sabemos o que vamos encontrar”, advertiu. Nesta terça, peritos cubanos foram incorporados ao grupo técnico-científico, a pedido da família Goulart. As análises de Cuba ficarão sob a responsabilidade do reitor da Escola de Medicina de Havana, Jorge Pérez, presente ao encontro.

Todas as instâncias envolvidas no esclarecimento da morte do ex-presidente – Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Comissão Nacional da Verdade (CNV), Ministério Público, Polícia Federal e Comitê Internacional da Cruz Vermelha – endossam o movimento feito pela família Goulart, anos atrás, no sentido de recorrer à ciência para esclarecer causas e circunstâncias da morte de Jango, a 6 de dezembro de 1976, em sua fazenda na cidade argentina de Mercedes. Em seu atestado de óbito consta apenas “morto por enfermedad”. Não houve pedido de autópsia à época. Desde o início dos anos 80, pairam versões de que Jango morreu vítima de envenenamento, recurso sabidamente utilizado pela Operação Condor.

“Vamos investigar tudo, com muita seriedade”, garantiu a ministra Maria do Rosário, na abertura dos trabalhos, no INC. Discutiu-se também se Jango, exumado, terá honras de chefe de Estado. Para Maria do Rosário, o ex-presidente precisa ser lembrado: “Exumar Jango é exumar a ditadura”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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