Apesar de quase quatro décadas vividas no exterior, o alagoano Antônio Geraldo Costa, o Neguinho, de 75 anos, desembarcou hoje no Aeroporto Tom Jobim carregando apenas uma mochila. Dirigente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais na ocasião do golpe de 64, Neguinho participou da luta armada e fugiu do País em 1970, quando se estabeleceu na Suécia. Recusou-se a retornar depois da anistia, em 1979, porque duvidava das garantias de que não haveria punição para os anistiados. Hoje, finalmente, voltou disposto a morar de novo no Brasil. Exibiu o passaporte obtido há um mês, pela primeira vez com seu nome verdadeiro, e já chegou fazendo discurso.

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“Aqui estou porque participei da luta contra a ditadura e a opressão”, foram as primeiras palavras de Neguinho no saguão do aeroporto, com o braço direito erguido e rodeado de antigos companheiros da resistência. Saudado com faixas e o desenho de um tigre, outro de seus apelidos, o ex-marinheiro confessou a tensão da viagem entre Estocolmo e Rio, com parada em Lisboa, e o temor de algum incidente com a Polícia Federal na passagem pela imigração. “Os ocupadores do poder em 64 ainda estão por aí”, justificou. No entanto, disse ter ficado aliviado quando viu um representante do Ministério da Justiça, que deu boas vindas ao exilado. “Agradeço ao ministro Tarso Genro, que enviou um emissário”, fez questão de declarar Neguinho, que nem de longe aparenta a idade que tem.

Militante do Movimento de Ação Revolucionária (MAR), Neguinho viveu na clandestinidade durante seis anos no Brasil. Nesse período, envolveu-se em assaltos a bancos para garantir recursos às ações de resistência e, em 1969, ajudou no resgate de companheiros presos na Penitenciária Lemos de Brito, no Rio. Pouco depois da ação, deixou o País, passou pelo Uruguai, Argentina e Chile, onde embarcou em um navio até a França e, de lá, em um trem para a Suécia. Nos 40 anos de exílio, Neguinho esteve duas vezes no Brasil, uma delas em 2005, ainda com nome falso. Naquele ano, foi convencido pelos amigos a pedir anistia, o que fez por meio de procuração. Em dezembro de 2006, foi anistiado.

Bem-humorado apesar do cansaço, Neguinho posou para fotos que pretende mandar para os dois filhos suecos, de 18 e 20 anos. Nas primeiras semanas de Brasil, será hóspede de um casal amigo, Eliete Ferrer e Leôncio Maia, companheiros do exílio sueco. Admirador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Neguinho disse que tem vontade de se filiar a um partido político e prometeu militância “pela democracia, pela liberdade”. “Vou me situar na política e vai ter um momento em que vou me engajar em um partido. Não sei qual, só sei que não vai ser de direita”, anunciou o ex-marinheiro, que no exílio fez faxina, entregou jornais, cozinhou e cuidou de idosos até fazer um curso técnico de geologia. Hoje, está aposentado na Suécia.

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