Um relatório militar indica que as Forças Armadas podem ter usado napalm, mistura de gasolina com resina, com mais frequência na guerra psicológica contra os guerrilheiros do Araguaia, no começo da campanha, possivelmente em 1972. Estudo divulgado nesta quinta-feira por Claudio Fonteles, da Comissão Nacional da Verdade, destaca que a bomba que marcou a ação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, naqueles anos, teria sido utilizada também em três áreas do Sul do Pará.
Guardado no Arquivo Nacional, o Relatório de Apoio Aéreo foi elaborado em novembro de 1972 pelo tenente-coronel Flaryz Guedes Henriques de Araújo, em plena guerra contra os guerrilheiros. “As missões pretendidas pelo CMP (Comando Militar do Planalto) aqui mencionadas no item 1 foram executadas no decorrer das operações; há a acrescentar àquele repertório o bombardeio de três áreas com bombas napalm e de emprego geral”, destaca a folha 2 do relatório.
Em 2005, o jornalista e escritor Luiz Maklouf Carvalho divulgou artigo do coronel Álvaro de Souza Pinheiro, escrito naquele ano, sobre o uso de napalm na Serra das Andorinhas, na região de São Geraldo do Araguaia. A utilização de arma química na Amazônia pode ilustrar as estratégias iniciais de combate à guerrilha que os próprios oficias das Forças Armadas consideraram falhas e equivocadas. Nas duas primeiras campanhas militares, ao longo de 1972, por exemplo, a cúpula militar decidiu mandar tropas convencionais para acabar com a guerrilha. Só em 1973 os comandantes decidiram usar grupos especiais de combate.
Transparência
Ao contrário de alguns colegas da Comissão da Verdade que defendem sigilo nas pesquisas do grupo, Claudio Fonteles tem divulgado relatórios parciais de suas investigações. Para ele, o debate sobre a ditadura proposta pela comissão não deve se limitar à fase de entrega do relatório final do grupo escolhido pela presidente Dilma Rousseff para investigar crimes do Estado. Ele defende um diálogo permanente com a sociedade.
No estudo sobre o Araguaia, Fonteles reforça a convicção de grupos de direitos humanos e pesquisadores de que as Forças Armadas têm informações sobre a localização dos corpos dos guerrilheiros mortos no Araguaia. Um relatório do capitão de mar e guerra Durval Pereira Buarque ressalta que o sepultamento dos guerrilheiros ocorria em “cemitérios escolhidos”. O documento destaca ainda que os militares tinham de tomar “todos os elementos de identificação”, como fotografia e impressão digital, antes de enterrar os corpos. O Cenimar, centro de inteligência da Marinha, chegou a apresentar, em 1993, datas de mortes de guerrilheiros, mas sem dar detalhes.