Relatório do Ministério Público Federal na Operação Carbono 14, 27ª fase da Lava Jato, aponta que o ex-secretário do PT Silvio Pereira recebeu R$ 508.682 das empreiteiras OAS e UTC Engenharia entre 2009 e 2011. O dinheiro foi repassado a uma das empresas de Silvio Pereira, a DNP Eventos. O ex-secretário do PT foi preso temporariamente nesta sexta-feira, 1, na Carbono 14.

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“É provável que tais pagamentos se refiram à ‘mesada’ que o PT destinou a Silvio Pereira por intermédio de desvios em contratos que a UTC e a OAS mantinham com a Petrobrás”, sustenta o documento da força-tarefa da Lava Jato.

Silvio Pereira é quadro histórico do PT. O ex-secretário da legenda foi denunciado pelo crime de associação criminosa no caso do mensalão. Não foi condenado por ter aceito proposta de suspensão condicional do processo.

Do montante total, afirma a Procuradoria da República, a construtora OAS pagou R$ 486.160 em quatro vezes. Uma em 2009, duas em 2010 e uma em 2011. Da UTC, foi identificado um depósito no valor de R$ 22.522,50 em 2011. A OAS e a UTC são investigadas na Lava Jato por suspeita de cartel na Petrobras.

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Segundo o dono da UTC, Ricardo Pessoa, delator da Lava Jato, parte das propinas da Petrobras destinadas ao PT foi paga por intermédio de doações eleitorais oficiais entre os anos de 2006 e 2012.

Os procuradores identificaram ainda que a DNP Eventos recebeu R$ 154 mil da empresa Projetec, controlada por outro delator da Lava Jato, o empresário Augusto Mendonça, entre 14 de julho de 2010 e 15 de dezembro de 2010 e de R$ 12.388 da empresa Treviso Empreendimentos, do lobista Julio Camargo em 19 de janeiro de 2012. Julio Camargo também é delator do esquema de corrupção instalado na Petrobras e relatou propina de US$ 5 milhões do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Augusto Mendonça e Julio Camargo já foram condenados na Lava Jato.

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“Augusto Mendonça falou que Silvio Pereira teria lhe prestado serviços de pesquisas eleitorais. Alegou que tinha conhecimento que Silvio Pereira tinha relação próxima ao PT e a Petrobrás, alegando que contratou os serviços para ajudá-lo em razão de uma crise financeira que estaria passando após o processo do Mensalão”, afirma o relatório da Procuradoria.

O documento aponta que a DNP Eventos recebeu aproximadamente R$ 250 mil “como pagamento por possíveis serviços de publicidade por carros de som e pagamento de material gráfico para campanhas de candidatos do PT na eleição municipal de 2012”.

“Aparentemente, a prestação de tais serviços é incompatível com o objeto social da empresa”, afirma a força-tarefa.

O Ministério Público Federal havia requerido a prisão preventiva de Silvio Pereira. A força-tarefa viu “prática habitual de crimes e de total descaso com a Justiça” por parte do ex-secretário do PT.

O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, concedeu a custódia temporária, válida por 5 dias.

“Embora talvez cabível, no contexto, a prisão preventiva de ambos, reputo nesse momento mais apropriada em relação a eles a prisão temporária, como medida menos drástica, o que viabilizará o melhor exame dos pressupostos e fundamentos da preventiva após a colheita do material probatório na busca e apreensão”, afirmou o magistrado. “A prisão temporária ampara-se ainda nos indícios de prática de crimes de corrupção, lavagem, fraudes, além de associação criminosa.”

A Operação Carbono prendeu o empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman, próximo do ex-ministro José Dirceu e um dos pensadores do PT, foram conduzidos coercitivamente a prestar depoimento.

A reportagem entrou em contato com o escritório dos advogados que defendem Silvio Pereira e foi informada que os criminalistas não poderiam falar. Em fevereiro deste ano, em petição ao juiz federal Sérgio Moro, o ex-secretário geral do PT se colocou “à disposição” da Operação Lava Jato.