Ex-secretário de Saúde do Rio e preso na Lava Jato, Sérgio Côrtes disse nesta quarta-feira, 8, que usou recursos do empresário Miguel Iskin para financiar as campanhas do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do candidato à prefeitura do Rio, Pedro Paulo (PMDB). Côrtes e Iskin são acusados de participar do esquema de fraudes em licitações na saúde do Rio, que teria movimentado cerca de R$ 16 milhões.
Segundo Côrtes, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, o pedido de doação para Pezão teria vindo do ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).
“Cabral me pediu um repasse em torno de R$ 450 mil para a campanha do Pezão, porque ele estava com poucas chances. Eu pedi para Miguel Iskin, e ele me deu esse aporte de R$ 450 mil. Falei para Cabral que tinha conseguido R$ 300 mil, e ele disse que Carlos Miranda (apontado como operador do esquema) estaria comigo no meu escritório na Rede D’or em Botafogo. Os outros R$ 150 mil ficaram guardados na minha casa”, disse o acusado.
Côrtes disse ainda que depois foi procurado pelo então prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que lhe pediu que ajudasse na campanha de Pedro Paulo (seu candidato a prefeito em 2016). O ex-secretário afirmou que teria pedido à Rede D’or que fizesse a doação, mas esta teria se recusado a fazer a contribuição.
“Então, eu contribuí com aqueles R$ 150 mil, oficialmente, porque já tinha condições no meu Imposto de Renda. Fiz esse repasse para o Renato Pereira (marqueteiro da campanha do Pedro Paulo), e ele vai ao meu escritório junto com o Carlos Miranda (para receber o dinheiro)”, afirmou.
Côrtes também argumentou que o dinheiro que recebia de Miguel Skin, em torno de R$ 60 a R$ 70 mil por ano, enquanto trabalhava no Into, eram para custear viagens para a sua especialização médica. Outros médicos também recebiam, afirmou. O dinheiro, segundo ele, era usado em despesas como estadia e inscrição em congressos internacionais.
Depois que virou diretor do Into, Côrtes afirmou que pediu a Iskin que parasse de fazer pagamentos diretos. Receava que, como chefe do Into, “não poderia receber esse tipo de vantagem”. “Passou-se a discutir naquela época se era legal ou não receber esse tipo de vantagem. Então, eu passei a receber em espécie”, disse.
O valor recebido neste período também teria aumentado para até R$ 150 mil por ano. “Passei a querer um luxo a mais, viajar em classe A”, disse. “Passei a exigir mais, vamos usar esse termo”. No entanto, o ex-secretário afirmou que nunca recebeu comissões sobre vendas de contratos, conforme dito em delação do seu subsecretário, Cesar Romero.
Durante o depoimento, Côrtes disse que parou de receber a quantia para uma tentativa que se revelou frustrada: ser ministro da Saúde, durante o governo de Dilma Rousseff. “Me cogitaram para ser ministro da Saúde, como uma escolha do PMDB. Eu acreditava que conseguiria como uma cota da presidente Dilma. Eu estive com ela em duas ou três reuniões e apresentei propostas para o governo dela. Não me tornei ministro, e isso foi uma grande frustração para mim. Seria o apogeu da minha carreia”, desabafou.
Defesas
O governador Luiz Fernando Pezão informou por nota que não tem conhecimento da conversa entre Côrtes e Cabral, referida pelo ex-secretário. Pezão reafirmou que todas as doações de campanha foram feitas de acordo com a Justiça eleitoral.
O ex-prefeito Eduardo Paes lembrou, também por nota, que em 2016 as regras da eleição permitiam a doação de recursos de pessoas físicas a campanha eleitoral.
“O apoio do Sr. Sérgio Côrtes foi feito e declarado na prestação de contas do Deputado Pedro Paulo. Em nenhum momento o prefeito Eduardo Paes solicitou recursos não declarados”, afirmou o texto.
O deputado Pedro Paulo também negou irregularidades, por meio de nota. “Durante toda a minha campanha para prefeito, em 2016, foram feitos pedidos de apoio a pessoas físicas, conforme determina a lei e todos os recursos foram devidamente declarados à Justiça Eleitoral. O Sr. Sérgio Côrtes fez uma doação legal, declarada, no valor de R$ 150 mil, assim como os outros 384 doadores de pessoa física, com nome, sobrenome e valores disponíveis no site do TSE ou do TRE/RJ para a consulta de qualquer cidadão”, declarou parlamentar no texto”.