Mesmo com o mandato encerrado em janeiro de 2008, o ex-deputado federal Almeida de Jesus (PR-CE) ainda usou seu crédito com a cota de passagens da Câmara para emitir 81 bilhetes aéreos. Desses voos, apenas dois foram feitos pelo próprio parlamentar. O ex-deputado acabou distribuindo viagens entre pessoas que precisavam se deslocar do Ceará, seu Estado de origem, para Brasília ou São Paulo em busca de tratamento médico ou de algum estágio profissional. Na prática, um atendimento político para seus eleitores, embora Almeida de Jesus não veja problema nisso.
“Eu repassava a passagem para quem me procurava no Estado, precisando fazer uma viagem. Gente que precisava ir a um hospital em Brasília, um estudante que precisava buscar estágio em São Paulo. Eu tinha os créditos acumulados e as regras da Câmara permitiam isso. Não fiz nada de ilegal”, afirmou ele ao jornal O Estado de S. Paulo. Segundo levantamento feito pelo site “Congresso em Foco”, 117 ex-deputados usaram a cota de passagens após deixarem a Câmara, mas Almeida de Jesus foi o campeão nesse ranking.
Emitir passagens pagas pelo Congresso mesmo depois de o mandato ter sido concluído só foi possível porque os créditos são contabilizados em nome dos deputados. Assim, eles podem continuar emitindo passagens no tempo em que quiserem, desde que ainda possuam saldo. Almeida de Jesus afirma que fez uma espécie de poupança desses créditos ao utilizar sempre voos em horários pouco procurados, o que barateava as passagens.
“Tinha voos em que as passagens custavam R$ 600, R$ 800, em horários melhores, e eu não usava. Pegava voos de madrugada, por R$ 300, para poder acumular esses créditos e distribuir passagens para quem precisava”, disse. No fim do mandato, como não tentou se reeleger, Almeida de Jesus entendeu que poderia continuar gastando os créditos que tinham sobrado. “O crédito sai no nome do deputado. Se houve erro, era do sistema que existia”, avalia.