Três deputados da bancada evangélica na Assembleia Legislativa seguiram um padrão na indicação de emendas parlamentares em 2010: destinaram mais de 90% de suas emendas para recapeamento asfáltico, quase todas no valor de R$ 150 mil – limite para que a licitação possa ser feita com uma simples carta-convite – e para cidades do noroeste paulista onde quase não tiveram votos.
O habitual é que os deputados destinem emendas a cidades onde são bem votados, como forma de atender às necessidades de seus eleitores e retribuir votos.
Os três parlamentares são o deputado estadual Gilmaci Santos (PRB), o atual deputado federal Otoniel Lima (PRB) e o ex-deputado estadual João Barbosa (DEM), todos ligados à Igreja Universal.
De acordo com os dados publicados pelo governo paulista na semana passada, Gilmaci destinou todas as suas emendas para recapeamento em ruas do interior paulista – um total de R$ 2,1 milhões. Dos 12 convênios assinados no ano passado com a intermediação do deputado, apenas um extrapola os R$ 150 mil. Em nove das 11 cidades beneficiadas ele teve menos de 25 votos nas eleições de 2006. Em duas delas não teve nenhum.
Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo em 3 de outubro, quem realiza as obras de asfalto na maioria das cidades para as quais Gilmaci destina verbas é a Demop Participações Ltda, empresa que domina o ramo no noroeste paulista.
O governo estadual também pagou em 2010 R$ 2,1 milhões em emendas de Otoniel Lima, colega de partido de Gilmaci. Das 14 indicações que ele fez, 13 foram no valor de R$ 150 mil. Até este valor, as prefeituras conveniadas podem convidar três empresas para disputar a obra, em vez de permitir uma concorrência mais ampla. Dessas 13, 12 se destinam a recapeamento asfáltico. Em 2006, Otoniel não conseguiu mais do que seis votos nas 14 cidades. Em cinco delas, não teve nenhum.
O ex-deputado João Barbosa conseguiu liberar R$ 1,8 milhão em emendas de sua autoria. Das nove emendas, apenas uma não se destina a pavimentação ou recapeamento de ruas e avenidas. Do total, sete indicações de Barbosa têm valor de R$ 150 mil. Em quatro das cidades beneficiadas o ex-deputado teve menos de 20 votos nas eleições de 2006.
Deputados da Assembleia e dirigentes partidários observaram que os deputados da bancada evangélica precisam menos das emendas como forma de obter votos do que o restante dos parlamentares, já que as igreja se encarregam de conseguir-lhes votos. Como revelou o jornal há um mês, o pivô das acusações de venda de emendas, deputado Roque Barbiere (PTB), disse a amigos que a “invasão” dos evangélicos em seus redutos eleitorais estaria entre os motivos que o levaram a fazer as denúncias. Barbiere é de Birigui, também no noroeste paulista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.