O engenheiro da empreiteira Mendes Jr José Humberto Cruvinel Rezende disse à Justiça Federal que se ‘sente enganado’ por ter assinado contrato de consultoria no valor de R$ 2,7 milhões com a GFD Investimentos, empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, peça central da Operação Lava Jato. Em depoimento na última segunda feira, 11, ao juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, Cruvinel admitiu ter assinado o documento, mas afirmou que não tinha conhecimento de que a GFD fosse apenas uma empresa de papel – segundo a força tarefa da Lava Jato, o doleiro usava a GFD para dar fluxo a dinheiro de propina cujos destinatários eram políticos.
Cruvinel é acusado pelo Ministério Público Federal nos processos da Lava Jato que lhe imputa a suposta prática de 409 operações de lavagem de dinheiro. Ele declarou que fazia parte de sua rotina assinar “uma pilha” de contratos, distratos e aditivos. O contrato com a GFD lhe foi levado por um outro funcionário da Mendes Jr, Alexandre, no âmbito das obras da REPLAN (Refinaria de Paulínia, em São Paulo) sob responsabilidade de um consórcio formado por três empresas, uma delas a Mendes Jr.
O engenheiro disse que ao verificar o valor de R$ 2,7 milhões do contrato de ‘consultoria’ firmado com a GFD ligou para Rogério Cunha, alto executivo da empreiteira. “Esse contrato foi celebrado pelo Conselho e está autorizado você assinar”, teria dito Rogério Cunha, segundo o relato de Cruvinel.
“Todos assinamos esse contrato de boa fé”, disse o engenheiro – além dele, os representantes das outras duas empreiteiras do consórcio assinaram.
“Hoje eu me sinto enganado, eu me sinto enganado”, desabafou Cruvinel. Recebemos autorização para assinar, assinamos o contrato e o assunto terminou aí. Continuamos a obra. Eu não conheço a GFD, não tive nenhum contato com ninguém dessa empresa, não conhecia nada sobre as operações dessa empresa. Eu nunca negociei nada de propina, nada que não fosse cuidar da minha obra. Eu estou surpreso, estou sendo acusado de ter assinado diversos contratos, assinei um sem saber. Estou surpreso porque sou citado como executivo da Mendes Jr, não sou executivo. Sou acusado por formação de cartel. Estou perplexo de estar envolvido num negócio desse jeito. Eu não sou nada, eu não sou isso.”
Cruvinel foi enfático ao juiz Moro. “Nunca tratei nada disso, nem internamente (na Mendes Jr.), nem com a Petrobras, nem com ninguém. Eu não sabia que se tratava de alguma coisa ilícita. Consultoria pode ser propina, nesse caso específico é, está demonstrado que é.”
O juiz Moro perguntou ao engenheiro se ele conhecia o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa – primeiro delator da Lava Jato. Cruvinel relatou sobre uma reunião que teria ocorrido em 11 ou 12 de agosto de 2011 para discutir sobre atraso nas obras e um aditivo de prazo. Naquele dia ele conheceu o então poderoso diretor da estatal petrolífera. “Na reunião, quando eu falava das obras, ele (Paulo Roberto Costa) me interrompeu. ‘Eu me admiro muito de ter pessoa velha nessa função’. Quando ele disse isso eu me senti altamente ofendido de ter sido interrompido. Eu não conhecia essa pessoa, a reunião foi uma pancadaria em cima das três empresas (do consórcio), principalmente em cima de mim.”