O cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Oliveira disse que o poder político no Paraná está estruturado sobre as relações de parentesco. Oliveira foi um dos palestrantes do seminário "O Nepotismo e a Moralidade na Administração Pública", realizado pela Assembléia Legislativa e pelo mandato do deputado Tadeu Veneri (PT), cujo projeto de emenda constitucional proibe a contratação de parentes de integrante dos três poderes, para cargos de confiança está tramitando.
Autor do livro Silêncio dos Vencedores, Genealogia, Classe Dominante no Estado do Paraná, onde faz um mapa do poder no estado sob o enfoque do parentesco, Oliveira localiza as raízes dos atuais ocupantes do poder político no Paraná, onde diferentes famílias teriam edificado uma rede social de intervenções complexas na vida pública, abrangendo os vários escalões do Executivo, Judiciário e Legislativo. Para traduzir o poder das relações familiares no Paraná, Ricardo Oliveira citou nomes conhecidos do mundo político local. Um dos exemplos foi a família Camargo, que atualmente está na Câmara Municipal com o vereador Fábio Camargo, o membro mais jovem de um grupo apontado como dos mais antigos na política paranaense. "O vereador é filho e neto de desembargadores e tem um parentesco remoto com um dos deputados federais mais antigos, Affonso Camargo. Por sua vez, o deputado federal é neto de um Affonso que foi o presidente do Paraná na República Velha", citou.
Outros sobrenomes famosos como os Macedo também foram apontados na árvore genealógica do poder do Paraná desenhada por Oliveira. Segundo ele, a família Macedo teve quatro desembargadores nos últimos anos. E tem um braço político, o deputado Rafael Greca. O cientista político também mencionou as famílias Richa e Requião de Mello e Silva, cujo mais recente confronto se deu na eleição para a prefeitura de Curitiba, em 2002. Ele citou que o pai do atual governador do Paraná, Wallace de Mello e Silva, foi prefeito de Curitiba, contra Ney Braga, cujos herdeiros políticos estão hoje no PSDB e PFL. "A eleição de 2004 foi isso. De um lado estavam os apoiados pelo Wallace e do outro os herdeiros políticos de Ney Braga", disse. Ele citou ainda, como exemplo da força do sobrenome na política paranaense, o vencedor da eleição de 2202. "O Beto Richa foi eleito por parentesco. Ele foi mais Richa que Beto", comentou.
Impessoalidade
O vice-presidente estadual da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná, Dirceu Galdino Cardin, disse que enquanto a sociedade silencia sobre a prática de nepotismo, o que prevalece na função pública é a partilha de poder visando os interesses familiares e particulares. "Vencer o nepotismo é dar eficiência e capacidade à função pública contra a vontade de quem está mandando naquele momento", disse.
Cardin afirmou ainda que o Judiciário é um dos poderes onde a prática do nepotismo tem seu maior alcance. Não porque os outros poderes resistam a ela, mas porque a alternância de mandatos no Executivo e Legislativa inibem mais a perpetuação das relações de parentesco na nomeação dos cargos de confiança. "No Legislativo e Executivo, o mandato é mais curto. No Judiciário, um juiz fica trinta anos", comparou.