Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em debate realizado nesta segunda-feira, 22, em São Paulo, o ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González disse que a esquerda precisa aprender a se reinventar depois de chegar ao poder e não pode haver golpe, nem da esquerda nem da direita. “Não temos apenas a grande responsabilidade de vencer as eleições, mas também de gerenciar esse poder para poder continuar representando minorias sociais. Nós ajudamos a mudar a realidade social e ficamos com o mesmo discurso, por isso perdemos o poder na Espanha”, afirmou. Ele disse ainda que a esquerda democrática precisa procurar novos caminhos e instrumentos, para buscar os mesmos objetivos de igualdade e distribuição de renda.
As afirmações foram feitas em meio à explanação do ex-premiê a respeito da evolução dos governos de esquerda pelo mundo. Ele falou sobre a Espanha e sobre o seu partido, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que deixou o governo após denúncias de corrupção.
Mais cedo em sua fala, González elogiou a gestão de Lula e disse ter passado por situação semelhante ao que avalia viver hoje o governo petista – em referência às denúncias de corrupção na Petrobras a partir da Operação Lava Jato. “Quando um comando de jornalistas, juristas e promotores se juntam, podem tirar qualquer um do governo”, disse o ex-primeiro-ministro espanhol.
Venezuela
González disse também não ver uma conspiração da mídia na Venezuela, onde “a conspiração da mídia para derrubar o governo não existe, simplesmente porque não existe mídia que não seja do governo”. González fez uma comparação, com números extrapolados, para dar uma ideia da diferença em relação ao cenário brasileiro. Disse que, enquanto no Brasil 80% da mídia é contrária ao governo, na Venezuela isso não chegaria a 5%.
Recentemente, o Brasil se envolveu em um incidente diplomático com a Venezuela, após uma comitiva de senadores brasileiros ser hostilizada por manifestantes favoráveis ao governo Maduro. Os senadores de oposição visitariam presos políticos no país vizinho. Após o incidente, o governo brasileiro chamou a embaixadora da Venezuela no Brasil, Maria Lourdes Urbaneja Durant, a dar explicações sobre o caso. Em sua fala, no entanto, González não citou o episódio.