Uma varredura realizada ontem na Assembleia Legislativa revelou a existência de um sistema de escuta clandestina instalado em salas da presidência e 1.ª secretaria.
Os equipamentos, destinados a captar sons do ambiente e de ligações telefônicas, foram localizados por uma equipe de técnicos da empresa de segurança contratada pelo novo presidente, Valdir Rossoni (PSDB), que solicitou o trabalho atendendo a uma sugestão da Polícia Militar.
Desde a quarta-feira, uma equipe da Polícia Militar assumiu parte do serviço de segurança da Casa após a exoneração da maioria dos agentes de segurança da Assembleia, liderados pelo presidente do Sindicato dos Servidores do Legislativo, Ednilson Carlos Ferry, o Tôca.
Ele é acusado de ser um dos braços de um grupo que comandava a Assembleia Legislativa sob inspiração do ex-diretor geral Abib Miguel, o Bibinho, denunciado pelo Ministério Público Estadual como responsável por um esquema de desvio de recursos públicos.
Os aparelhos de escuta estavam embutidos nas luminárias das salas, onde o espaço para a instalação estava marcado com a suástica, o símbolo nazista. O perito Antonio Carlos Walger, que chefiou a equipe de técnicos, disse que se trata de um equipamento de contra-espionagem de tecnologia de ponta.
Cada módulo pode custar entre R$ 20 mil e R$ 50 mil. Alguns dos equipamentos são de fabricação israelense, informou o perito. “São microfones de indução com alta sensibilidade e com amplificadores de áudio”, explicou o técnico, acrescentando que o sistema era acionado por controle remoto.
Até ontem, ainda não se sabia se a central de escuta das gravações era externa ou funcionava dentro da Assembleia Legislativa. Os equipamentos foram descobertos ontem na sala reservada do presidente da Assembleia e na sala do chefe de gabinete da 1.ª Secretaria.
As buscas continuam e podem mostrar que a rede de escuta era mais ampla. O presidente da Assembleia Legislativa afirmou que a orientação da Polícia Militar para o “pente fino” nas salas veio depois que foram apreendidos aparelhos de bloqueio de escutas no cofre da sala do ex-chefe de Segurança.
Armadilhas
Rossoni chamou técnicos do Instituto de Criminalística e a Polícia Civil irá investigar o caso. “É um caso de polícia. Nunca imaginei que o Poder Legislativo estivesse submetido a isso. Queriam nos transformar em prisioneiros do sistema”, desabafou Rossoni. Para o presidente, o objetivo da escuta era tentar captar alguma informação que pudesse comprometer o desempenho da nova direção da Assembleia. “Eles queriam alguma coisa para nos chantagear”, afirmou.
Um dos aspectos que mais chamou a atenção dos técnicos, de Rossoni e do 1.º secretário, Plauto Miró Guimarães Filho (DEM), foi a aparência dos aparelhos, que pareciam novos.
“Não há uma poeira aqui. Até a argamassa usada para colar os acessórios está fresca. Isso aqui foi armado para nós”, disse o presidente da Casa. “É por isso que funcionários descontentes com a nossa eleição diziam que nos iríamos assumir, mas não duraríamos”, observou.
Os técnicos estimam que o equipamento teria sido instalado há poucas semanas. Ainda ontem, Rossoni determinou ao diretor geral da Casa, Benoni Manfrin, que providenciasse a troca das fechaduras das portas de todas as salas onde há centrais telefônicas, que pudessem conter outros equipamentos de escuta. O perito informou que, possivelmente, a transmissão era feita por rádio, o que dificulta, mas não impossibilita a localização da origem do “grampo”.