Aliado do ex-governador e presidenciável tucano Geraldo Alckmin, o governador e pré-candidato à reeleição Márcio França (PSB) é alvo de um ataque especulativo do PSDB a menos de um mês do início das convenções partidárias. No momento em que o PSB nacional descarta apoiar Alckmin e negocia subir no palanque do PT ou de Ciro Gomes (PDT), o grupo do ex-prefeito e também pré-candidato ao governo João Doria tenta atrair partidos do centro, oferecendo cargos na Prefeitura e apoio a deputados do grupo nas eleições proporcionais, em busca de uma sonhada vitória no primeiro turno.
A ofensiva já deu resultado. Na sexta-feira, o PP trocou França por Doria e acendeu um alerta na campanha de reeleição do governador de que outras siglas atualmente coligadas podem seguir pelo mesmo caminho. A interlocutores, França admite que o risco existe, mas em relação às siglas menores, que não mudariam a composição que hoje representa 25% do tempo fixo na TV.
França conta com a fidelidade de lideranças do PR, PTB, Solidariedade, PSC e PROS. São essas siglas que somadas ao PSB lhe asseguram 2 minutos e 18 segundos – Doria tem 2 minutos e 59 segundos. “Podem me tirar uma flor, mas não podem impedir a primavera”, afirmou neste domingo, 24, o governador ao jornal O Estado de S. Paulo, em referência a sua campanha. Segundo ele, Doria sabe que terá de enfrentá-lo no segundo turno.
Na lista de partidos que podem mudar de lado estão o PPS, rachado internamente sobre a eleição estadual, e o PHS, levado para o governo por França – o presidente nacional da sigla, Laércio Benko, virou assessor na Casa Civil. “Nada impede o partido de reabrir o debate. O PPS pode mudar de posição, por que não? Avalio que é precipitado esse apoio ao Márcio França”, disse Carlos Fernandes, presidente municipal do PPS e funcionário da gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), sucessor de João Doria na administração da cidade. Fernandes é prefeito regional da Lapa.
Apoio
Em meio a esse cenário, Doria e França têm usado as máquinas da Prefeitura e do governo, respectivamente, em troca de apoio e maior tempo nos programas na TV e no rádio.
Após ingressar na coligação do tucano, o PRB, por exemplo, recebeu o compromisso de indicar o novo secretário municipal de Esportes. Covas deve nomear João Faria para o cargo no próximo dia 1.º. Ex-vereador petista, Faria vai assumir no lugar de Jorge Damião, que vai participar da campanha.
Presidente municipal do PRB, Aildo Rodrigues confirmou no domingo que o acordo foi fechado após a declaração oficial do partido em favor de Doria. “Foi uma composição do PRB estadual com o governo municipal. Tem a ver com o apoio ao Doria, sim”, disse ele.
O PP também pode ser recompensado pela máquina municipal. Uma das possibilidades é que a sigla assuma a Secretaria de Segurança Urbana. “Seria natural que o partido participasse do governo depois do tempo de TV que cedemos ao Doria. Aliás, não só agora, como na campanha dele para a Prefeitura. O PP poderia ajudar na Segurança, reestruturando a Guarda Municipal, por exemplo. O PSDB tem de mudar sua filosofia em relação à Polícia e à Guarda. Não é à toa que o Alckmin está perdendo para (Jair) Bolsonaro em São Paulo”, afirmou o vereador Conte Lopes (PP).
Presidente estadual do PP, o deputado estadual Guilherme Mussi nega que o partido tenha negociado cargos na Prefeitura ou mesmo no governo estadual – um dos motivos que teriam levado a sigla a mudar de lado teria sido a demora do governador em atender aos pedidos de indicação para direções de departamentos estaduais, especialmente na Polícia Civil. Mussi chegou a anunciar apoio à reeleição do governador, mas uma semana depois fez novo evento, desta vez ao lado de Doria.
Primeiro partido a se definir em São Paulo, o PR assumiu a Secretaria Estadual de Logística e Transportes depois de França virar governador. A sigla pleiteava o cargo durante o governo Alckmin, mas só foi atendida por França, que ainda permitiu a integrantes do partido nomearem toda a diretoria da Dersa, responsável por algumas das maiores obras do governo, como o trecho norte do Rodoanel e a duplicação da Tamoios.
Também aliados, Gilberto Nascimento Júnior (PSC) virou secretário estadual do Desenvolvimento Social, enquanto Cacá Camargo (PROS) assumiu a área de Esportes. Já o DEM perdeu a Secretaria de Habitação no dia seguinte ao anúncio de apoio a Doria. O governo nega ter feito loteamento do setor e diz que “as indicações não são partidárias, e sim técnicas, com profissionais experientes.”
Procurada, a Prefeitura informou que também não existe relação entre as nomeações e as eleições. “A Prefeitura ressalta que preenche suas nomeações com nomes capacitados para os cargos que ocupam.” Doria não quis se manifestar.
Acusações
Ex-aliados em São Paulo, o PSB e o PSDB hoje trocam acusações sobre uso da máquina nas eleições estaduais. A relação entre os dois partidos no Estado se deteriora a cada dia e deixa o ex-governador e presidenciável Geraldo Alckmin em uma situação delicada.
Os tucanos pressionam Alckmin a priorizar o ex-prefeito João Doria (PSDB) na disputa estadual, enquanto os pessebistas já admitem que Alckmin deve deixar o governador Márcio França, seu sucessor, em segundo plano.
“Quando Alckmin disse que o candidato dele é o Doria, ficou claro que ele vai acabar aparecendo ao lado do ex-prefeito. Ele também não pode aparecer ao lado do meu pai no horário eleitoral da TV”, disse o deputado estadual Caio França (PSB), filho do governador.
Segundo o parlamentar, o PSDB acusa o PSB de usar a máquina para fins eleitorais, mas ele diz que essa seria uma prática dos tucanos “há 20 anos”. “Chega a ser esdrúxulo o PSDB nos acusar de algo que fazem há 20 anos no governo e continuam fazendo na Prefeitura.” Para Caio França, não há problemas em indicar integrantes de partidos aliados desde que eles sejam qualificados.
Já o líder do PSDB na Assembleia Legislativa, deputado Marco Vinholi afirma que França montou sua coligação “cedendo espaços” no governo e, por isso, não consegue mais governar. “Por alianças, ele abriu mão de cargos que nunca entraram em negociação política, como a secretaria de Transportes, que hoje está com o PR”, afirmou o tucano.
Questionado se a mesma prática estaria ocorrendo na administração municipal, que é comandada pelo tucano Bruno Covas, Vinholi disse que os dois casos são diferentes.
“Na Prefeitura, há um modelo de gestão. Ele está compondo com a Câmara alianças de governabilidade. Já as alianças de Márcio França são meramente eleitorais”, afirmou.
O líder do PSDB disse ainda que mais partidos que integram a coligação do atual governador podem migrar para Doria. “Não acredito que isso vai acontecer. Pelo contrário. Muitos tucanos defendem a nossa candidatura”, respondeu o deputado Caio França. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.