A composição da equipe do segundo mandato do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), anunciada na noite de anteontem, 23, provocou desconforto entre aliados e reações de adversários. O convite ao deputado federal Alceni Guerra (DEM), um político do interior do Estado (DEM), que já esteve na administração do governador Roberto Requião (PMDB) e foi secretário da Casa Civil no governo Jaime Lerner, o retorno da primeira-dama Fernanda Richa à presidência da Fundação de Ação Social (FAS), que pode gerar questionamentos jurídicos, e o espaço cedido ao PP foram algumas das arestas que sobraram das escolhas do tucano.
A nomeação de Fernanda Richa para a FAS, com base em parecer da Procuradoria do Município, concluindo que a fundação tem status de secretaria municipal, foi vista pelos adversários como uma tentativa de burlar a Súmula Vinculante n.º 13, do Supremo Tribunal Federal (STF), que proíbe a prática de nepotismo na administração pública. O presidente municipal do PT, vereador André Passos, disse que a decisão do prefeito merece questionamentos políticos e legais.
“O prefeito mostrou que não está cumprindo nenhum dos compromissos de campanha. Ele havia se comprometido com o PPS, que tem uma posição clara contra o nepotismo, a cumprir a lei. Nada pessoal contra a Fernanda Richa, mas é uma situação grave burlar uma súmula do STF. Será que não havia outra pessoa que ele pudesse colocar lá?”, disse o dirigente municipal do PT.
Passos comentou ainda que a nova equipe de Beto foi constituída sob medida para a sucessão estadual de 2010. “Está claro pela forma como ficou a equipe que tudo o que interessa é a projeto político dele de concorrer ao governo em 2010”, disse. O convite a Alceni para assumir a Secretaria do Planejamento seria uma demonstração de que o prefeito adequou os auxiliares ao seu projeto, criticou o dirigente municipal do PT. “O Alceni é daquele tipo que se encaixa em qualquer lugar e tem um histórico de servir a vários senhores. Mas é do interior e isso pode ajudar o prefeito em 2010”, avaliou.
Autor do projeto de emenda constitucional que regulamentava a proibição da prática de nepotismo, o deputado estadual Tadeu Veneri (PT) disse que está avaliando a possibilidade de questionar juridicamente a indicação de Fernanda. “Foi um ato de deboche do prefeito, que desfez de todas as pessoas que consideram o nepotismo uma prática condenável. Além disso, que interesses existem na FAS que o órgão não pode ser comandado por outra pessoa que não a primeira-dama?”, questionou.
Choro de perdedor
O presidente municipal do PSDB, vereador João Cláudio Derosso, disse que as críticas dos adversários não passam de “choro de perdedor” e serão solenemente ignoradas pelo partido. “O PT sabe que a Fernanda foi uma das responsáveis pela brilhante vitória do Beto Richa. Pelo trabalho que desenvolveu, ela ficou conhecida como a mãe dos pobres e eles não se conformam que tenha esse clamor popular para que ela permaneça na FAS”, revidou Derosso.
Derosso citou que o prefeito acolheu a um pedido de entidades assistenciais que apresentaram a Beto um abaixo-assinado com mais de vinte mil assinaturas para que Fernanda continuasse à frente da fundação. “Eles sentiram na pele a força da Fernanda na campanha eleitoral, principalmente pelas benfeitorias que ela levou àquelas regiões de invasão promovidas pelo PT”, atacou.
Bronqueados, pepistas reavaliam sua posição
O presidente estadual do PP, deputado federal Ricardo Barros, reuniu-se ontem com vereadores e integrantes do partido em Curitiba, para avaliar a posição que o partido irá adotar sobre a participação na nova administração do prefeito Beto Richa (PSDB). Barros disse que o secretário de Esportes, Rudimar Fedrigo, não representa o partido na gestão do prefeito e que o PP espera que Beto reveja a situação do ,PP.
Barros afirmou que Fedrigo é ligado ao PCdoB e que foi uma indicação do presidente da ParanáEsporte, Ricardo Gomyde. “Eu não conheço esse rapaz. O que sabemos é que ele é ligado ao Gomyde”, disse o dirigente estadual do PP. Ontem, Gomyde divulgou nota cumprimentando Beto pela escolha.
Barros afirmou que Beto tinha um compromisso de campanha com o PP para que o partido mantivesse participação no segundo mandato, assim como os demais aliados da campanha eleitoral deste ano. Entretanto, segundo Barros, o prefeito fez apenas convites pessoais a determinados integrantes do partido. Um deles foi o deputado estadual Ney Leprevost, que foi sondado para assumir a Secretaria de Esportes. Mas o convite não foi discutido com a direção do PP, disse Barros. “Nós estamos aguardando que o prefeito converse com o partido. Não sei se ele vai manter ou não a equipe. Se ficar assim é porque não está cumprindo com o que acordamos na campanha e o partido não estará atendido”, afirmou.
O presidente estadual do PP disse que a expectativa é que o prefeito tucano volte a conversar com o partido. “Esperamos que o prefeito nos diga qual será o nosso espaço na equipe e aí, vamos, enquanto partido, ver qual será o melhor nome para indicar e que possa contribuir com a administração dele”, declarou.
