Sem ataques a desafetos e críticas à Justiça, o governador Roberto Requião (PMDB) comandou, ontem, a escola de governo respeitando a decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, que o impede de utilizar a Rádio e Televisão Educativa, que transmite a reunião ao vivo, para autopromoção e ataques a instituições e adversários.
O governador abriu o programa dizendo que respeitaria a decisão da Justiça e alegando apenas que ?eu estou proibido de falar qualquer coisa, mas os telespectadores podem imaginar o que estou pensando?. Na seqüência, deu a palavra a alguns de seus secretários, sem fazer as habituais intervenções irônicas.
Nas duas últimas ?escolinhas? que havia dirigido, Requião criticou e ironizou a decisão da Justiça. Dizendo-se censurado, o governador já deu receita de ovo frito ao vivo, cortou o áudio de suas declarações e, até, tirou a TV Educativa do ar.
A TV Educativa também cumpriu a decisão da Justiça que determinou a exibição de duas notas de desagravo, produzidas pela Associação dos Juízes Federais do Brasil e pela Associação Nacional dos Procuradores da República repudiando o comportamento jocoso do governador perante a ação do Ministério Público Federal e a Justiça Federal. No entanto, logo após as duas notas, a TVE exibiu citação à Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz que todos têm direito à livre expressão, e o comentário do presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo, criticando a decisão.
Durante a ?prestação de contas à população?, objetivo da transmissão da Escola de Governo, o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Valter Bianchini, apresentou as previsões de sua pasta para 2008, como a expectativa da safra recorde de trigo. O secretário da Justiça e da Cidadania, Jair Ramos Braga, anunciou o andamento das obras que resultarão em mais de três mil novas vagas em penitenciárias do Estado. Em seguida, o presidente da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), Rafael Greca, explicou as prioridades da política habitacional e o secretário de Obras Públicas, Júlio Cezar Araújo Filho, anunciou as obras programadas para 2008.
O governador também aproveitou para explicar o funcionamento dos cartões corporativos no Paraná. Com a intenção da oposição de investigar como foram gastos os R$ 76 milhões em cartões nos cinco anos de governo, Requião adiantou que o modelo paranaense é diferente do federal e do de São Paulo, e que, segundo ele, aqui o uso do cartão é bastante controlado.
Ele explicou que no Paraná o cartão destina-se apenas a despesas com viagens, como transporte, alimentação e hospedagem e que os cartões só recebem crédito no valor autorizado para cada viagem, mas admitiu que alguns desvios, como a autorização para viagens desnecessárias, são inevitáveis. ?Estou pedindo para os secretários que fiquem atentos para um desvio possível, que são as viagens desnecessárias. Um funcionário vai para a região metropolitana e recebe uma diária sem ao menos almoçar ou pernoitar nessas cidades. Numa estrutura de 160 mil funcionários isso é possível, mas essa questão tem sido fiscalizada?, afirmou. Segundo a Secretaria Estadual de Administração, o Estado possui 11.800 cartões corporativos.