A redução no tamanho do corte dos benefícios trabalhistas não vai ter muito efeito sobre os grupos situados mais à esquerda do espectro político do País. Eles consideram o corte dos benefícios uma parte pequena do ajuste fiscal que está em andamento no segundo mandato do governo Dilma Rousseff.

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Esses grupos vivem um momento de perplexidade. Diante da crise política, um dos principais problemas para a esquerda é conciliar duas bandeiras aparentemente opostas. De um lado apoiam a permanência de Dilma no poder e se opõem ao impeachment. De outro, atacam sua política de austeridade fiscal. Para a esquerda, isso vai afetar a classe trabalhadora e agravar o desemprego. Ninguém está disposto a defendê-la nas ruas.

“O governo é indefensável em relação a essas medidas de ajuste”, disse Guilherme Boulos, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), durante um debate realizado no sábado, 21, em São Paulo, sobre o avanço do conservadorismo e direitos sociais.

Organizado pelo PSOL no Sindicato dos Bancários, em São Paulo, o encontro reuniu quase mil pessoas, a maioria jovens – um feito notável para um chuvoso sábado à tarde. Durante quase duas horas, eles ouviram cinco análises de conjuntura. As cinco convergiram para o ponto de impasse: é preciso defender o governo contra as tentativas de impeachment, apontando-o como uma espécie de golpe branco; e, ao mesmo tempo, atacar o governo por sua política econômica.

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“Não temos como defender o governo, mas também não temos como não defender. Esse é o problema que vamos ter que resolver”, disse o cientista político André Singer, filiado ao PT. “Do ponto de vista político, a esquerda não pode apoiar uma política econômica que provoca desemprego. É suicídio político.”

Singer e os outros debatedores disseram que a política econômica em curso vai agravar a redução do nível de emprego e a queda nos índices de aprovação do governo. “O desemprego que já começou é resultado da crise econômica de 2014. Ainda não começou o desemprego resultante do ajuste que está sendo feito.”

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Coração

Para a líder sindical Berna Menezes, da Intersindical, central vinculada ao PSOL, a campanha eleitoral de Dilma reanimou a militância petista e atraiu outros partidos de esquerda quando houve a polarização com o PSDB e ela, com o lema do coração valente, se apresentou como opositora das políticas de reajuste que seriam supostamente levadas adiante por Aécio Neves. “A militância retomou as ruas”, disse a sindicalista. “Mas o coração valente de outubro se transformou em coração covarde em janeiro.”

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que a manutenção do ajuste fiscal significará “suicídio político”. Para Frei Betto, escritor e assessor das comunidades eclesiais de base (CEBs) e de movimentos populares, as medidas tendem a penalizar os pobres, sem atingir os ricos.

Os debatedores concordaram que os grupos de esquerda deveriam tentar organizar uma frente. O primeiro passo seria definir sua amplitude e com quais bandeiras iria atuar. No debate do sábado, ouviu-se desde a defesa de reformas básicas, como a reforma política, à reestatização da Vale do Rio Doce. O que parece ser comum aos grupos, por enquanto, é que a frente, se sair, não vai apoiar a atual política econômica de Dilma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.