O empresário Demerval de Souza, dono da construtora DAG, confirmou que comprou o terreno em São Paulo para a construção da sede do Instituto Lula, em acordo com a Odebrecht. O empreiteiro revelou ao juiz federal Sérgio Moro pagamentos ao advogado do ex-presidente, Roberto Teixeira, e diz ter recebido, de forma lícita, R$ 7,2 milhões da Odebrecht após o ex-presidente Lula “não ter gostado do local e desistido da transação”.
O depoimento do empresário ocorreu nesta quarta-feira, 6, na Justiça Federal em Curitiba, base da Operação Lava Jato.
O empresário tentou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato, mas um dos procuradores na audiência esclareceu que as tratativas foram interrompidas porque ele não atende a requisitos de um colaborador.
Demerval é réu acusado de usar sua empresa para intermediar a compra, pela Odebrecht, de terreno onde seria sediado o Instituto Lula, que, segundo o Ministério Público Federal, teria sido custeado com recursos ilícitos oriundos de contratos da Petrobrás.
O empresário alegou a Moro ter sido procurado pelo delator Paulo Mello, da Odebrecht, que propôs a compra do terreno, sem mencionar que seria destinado a Instituto. “Ele disse que não via com bons olhos a Odebrecht ser identificada como compradora do terreno”.
“Poucos dias depois, encontro com Marcelo. Temos um almoço de dois amigos, e no meio da conversas Marcelo pergunta se Paulo Melo havia comentado da compra do terreno para construção do Instituto Lula”, afirmou.
Demerval disse ter sido informado por Marcelo Odebrecht que poderia, depois de adquirir o terreno e construir a sede do Instituto, alugar ou vender o imóvel para a entidade, porque um “pool de empresas” faria doações ao IL.
Ele alegou ter sido combinado que, em face da demora que teria para obter tal retorno, combinou um adiantamento de R$ 8 milhões da Odebrecht em outro contrato no qual teria sido subcontratado pela empreiteira, no âmbito do Prosub, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos.
O empresário ainda contou ter sido solicitado a fazer uma limpeza do local para uma visita do ex-presidente Lula.
“Fui surpreendido, em junho de 2011. O (João Alberto) Louveira me chama: ‘Olha Demerval aconteceu uma coisa inesperada’. Eu percebi que ele estava tão surpreso quanto eu fiquei”.
Louveira é um dos 77 delatores da Odebrecht. Ele teria dito, segundo Demerval: “Houve a visita, o presidente chegou lá e não gostou do terreno”.
“E aí eu disse: Espere aí Louveira! Eu gastei dinheiro, deram a garantia, como não?”. Houve desgaste com Louveira e Paulo. “Eu disse: Paulo, o dinheiro que eu coloquei aqui era um dinheiro meu que eu lucraria no Prosub”.
Demerval ainda reclamou de pagamentos que alega ter feito ao advogado e compadre de Lula, Roberto Teixeira: “Eu paguei ao Roberto Teixeira mesmo não tendo advogado pra mim. Ele era advogado de todo mundo, menos meu, mas eu paguei. Saiu da conta corrente da minha empresa para a dele. Da mesma forma que o contrato do Glaucos saiu de minha conta da minha empresa para a do Glaucos”.
Glaucos mencionado por Demerval é Glaucos da Costamarques, que é réu nesta ação por supostamente ter emprestado seu nome para a aquisição do terreno do Instituto Lula e de apartamento vizinho ao do ex-presidente em São Bernardo do Campo.
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA CRISTIANO ZANIN MARTINS, QUE DEFENDE LULA:
“O ex-Presidente Lula esteve uma única vez no terreno juntamente com a diretoria do Instituto Lula para avaliar o interesse da entidade na compra ou locação do imóvel. Mas de pronto foi descartado o interesse no imóvel. O Instituto Lula é associação sem fins lucrativos e jamais teve a posse ou a propriedade desse imóvel”.