Na mira da Procuradoria-Geral da República, após a delação de seu ex-diretor de Relações Institucionais, Nelson Mello, o grupo Hypermarcas já teve seu principal acionista, João Alves de Queiroz Filho, citado em uma quebra de sigilo na Operação Lava Jato. Embora a delação de Mello não seja no âmbito da operação que apura o cartel de empreiteiras na Petrobras, os investigadores querem descobrir o motivo dos pagamentos efetuadas pela Monte Cristalina, holding de Queiroz Filho, à JD Consultoria, do ex-ministro da Casa Civil no governo Lula José Dirceu.

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De acordo com a quebra de sigilo da consultoria solicitada pela força-tarefa de Curitiba, a Monte Cristalina efetuou vários pagamentos, entre 2008 e 2013, que somados alcançam o valor de R$ 1,5 milhão. Agora, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo nesta terça-feira, 28, a Hypermarcas, empresa em que Queiroz Filho tem 20% de participação, está no centro de mais um escândalo envolvendo políticos.

Segundo Mello, apontado como o braço direito de Queiroz Filho há cerca de 30 anos, a empresa repassou R$ 30 milhões para senadores do PMDB, entre eles, Romero Jucá (RR), Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM). Todos negam terem recebidos recursos.

Lobistas

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Em um de seus depoimentos, Mello disse ter conhecido os lobistas Lúcio Bolonha Funaro, apontado como suposto operador do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e Milton Lyra, suposto lobista do presidente do Senado, Renan Calheiros, em Brasília para “se aproximar” do poder. Seu objetivo, declarou, era “proteger” o mercado que representava que, em sua avaliação, precisava “ter uma proteção legal”.

Embora os depoimentos não guardem relação com a Lava Jato, as revelações de Mello fortaleceram uma nova frente de investigação na Procuradoria que pretende apurar a relação de políticos e lobistas de Brasília. Nesse cenário, o repasse da Monte Cristalina à JD Consultoria é um dos casos que estão na mira dos investigadores. Além disso, a procuradoria pretende esmiuçar os projetos de lei, medidas provisórias e dívidas fiscais relacionadas a empresas do setor farmacêutico, em especial, o laboratório Hypermarcas.

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Proteção

Em sua delação, Mello também disse que “ressarciu” o grupo do montante que teria repassado aos lobistas. Segundo ele, a Hypermarcas “não auferiu nenhuma vantagem e nem sofreu prejuízos porque foi reembolsada”. Em nota divulgada nesta terça, após a revelação do Estadão, a empresa diz que Mello teria autorizado “por iniciativa própria as despesas sem as devidas comprovações de prestação do serviço”.

Para pessoas com acesso às investigações, o relato de Mello teria como objetivo proteger Queiroz Filho e a Hypermarcas de modo a sugerir que os pagamentos seriam de responsabilidade exclusiva do ex-funcionário. A versão é reforçada pelos recados enviados nos bastidores por um dos supostos lobistas utilizados pelo ex-executivo da Hypermarcas.

Oficialmente, Lúcio Funaro, por meio de seu advogado, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, informou que nunca fez lobby, nunca distribuiu propina e que os contratos assinados com a Hypermarcas tiveram como objeto a “assessoria com finalidade de economia de energia” em duas empresas do grupo.

Entretanto, nos bastidores, o suposto lobista tem enviado recados a Queiroz Filho. Em e-mail encaminhado à alguns amigos, Funaro disse desconhecer o conteúdo da delação de Mello e ressaltou que, ao contrário do que diz o agora delator, seu contato no Hypermarcas era o próprio Queiroz Filho. Como prova, em anexo do e-mail, o suposto lobista encaminhou também uma foto na qual aparece ao lado do maior acionista do grupo.

Defesa

Em nota à imprensa, o Grupo Hypermarcas informou que, após a saída de Nelson Mello, em março de 2016, a companhia “contratou assessores externos renomados para conduzir uma auditoria, já finalizada, que concluiu que o Sr. Mello autorizou, por iniciativa própria, despesas sem as devidas comprovações das prestações de serviços”.

Sobre os pagamentos da Monte Cristalina à JD Consultoria, o grupo disse que a contratação teve como objeto “análises mensais sobre o cenário político e econômico brasileiro” e que os valores cobrados “estavam em linha” com preços do mercado.

A defesa de José Dirceu não respondeu à reportagem. Milton Lyra negou que “tenha se apresentado ou agido em nome de qualquer parlamentar nas falsas situações descritas pela imprensa”. Em e-mail a amigos, Lúcio Bolonha Funaro diz desconhecer a delação de Mello. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.