O presidente do diretório estadual do PT, Emídio de Souza, foi procurado por dois prefeitos da sigla pedindo orientação da direção do partido para reavaliar convênios com o banco Santander, após a polêmica do envio de extrato aos clientes de alta renda do banco apontando o risco de deterioração da economia brasileira caso a presidente Dilma Rousseff seja reeleita.

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“Não podemos confundir o ataque que eles (analistas do banco) fizeram ao PT. Isso tem de ser respondido pelo PT e não por prefeituras”, disse o dirigente ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

Até esta segunda-feira, 28, só a Prefeitura de Osasco, na Grande São Paulo, anunciou a extinção de um convênio com o banco, sob a alegação de “mau atendimento”.

Souza afirmou que o PT não promoverá uma política de retaliação à instituição financeira, mas que cabe a cada gestor avaliar a relação do banco com seus municípios. “Se quiserem tomar decisão (de romper convênio) que tomem, mas não haverá orientação do partido para isso”, declarou.

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Nesta segunda, em sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, considerou “muito perigoso” especular em situações eleitorais e disse que é “inadmissível” qualquer interferência nesse sentido. Perguntada pelos entrevistadores se o Santander havia feito essa interferência, respondeu: “A pessoa que escreveu a mensagem (do Santander) fez isso, sim, e é lamentável e inadmissível”.

Suspensão

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A Prefeitura de Osasco rompeu o convênio com o Santander para pagamento de tributos municipais. Segundo a Secretaria de Comunicação de Osasco, o banco vinha se recusando a receber guias de pagamento da prefeitura e o rompimento já estava em discussão havia duas semanas. “Acabou sendo uma feliz, ou infeliz, coincidência”, disse o secretário de Comunicação de Osasco, Roberto Trapp. O Santander não quis comentar a decisão da administração petista.

A Prefeitura de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, tem contrato com o Santander para o pagamento de 14 mil servidores da ativa, uma folha de pagamentos equivalente a R$ 60 milhões por mês. A licitação foi feita em 2012 e o contrato de cinco anos com o banco será mantido pela gestão petista.

A Prefeitura de Santo André, também administrada pelo PT, informou que o Santander é um dos bancos credenciados a arrecadar tributos municipais e que vem cumprindo os termos do contrato, “não havendo motivos para sua suspensão”.

Demissões

Neste domingo, 27, o presidente mundial do Santander, Emilio Botín, afirmou que o informe distribuído “não é do banco, mas de um analista”. Segundo Botín, foram tomadas medidas internas em relação ao episódio e que os esclarecimentos às autoridades e à presidente Dilma Rousseff já foram prestados.

Botín ressaltou que os responsáveis pela elaboração e aprovação do informe serão demitidos. A assessoria de imprensa do banco não informou se os profissionais já foram desligados da instituição.

O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região aprovou uma moção de repúdio ao banco. “Consideramos o gesto do banco ‘irresponsável’, não só com a economia, mas com a democracia brasileira. Uma instituição desse porte não pode, ainda que tenha preferência eleitoral, praticar especulação, agredir a imagem do País e pôr em dúvida a nossa estabilidade”, diz a entidade.

Para o sindicato, o cenário mundial é “complicado”, mas o governo brasileiro tem mantido o crescimento em nível sustentável, a “inflação controlada, juros estáveis, geração de empregos e elevação da renda”. “É inaceitável essa ingerência do banco espanhol tentando influenciar a disputa eleitoral contra a vontade soberana do povo que irá às urnas em 5 de outubro”, finaliza o sindicato, que é ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).