A menos de um ano para as eleições municipais, ganha força o cenário que aponta para uma disputa encabeçada pela ex-candidata a presidente em 2014 Luciana Genro (Psol) e pela deputada estadual Manuela D’Ávila (PC do B) à prefeitura de Porto Alegre.

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Luciana é candidata declarada e articula alianças, enquanto Manuela prefere não comentar o assunto, mas é o principal destaque de todas as sondagens de votos feitas até agora. Num levantamento realizado pelo Instituto Methodus em outubro, elas lideram um dos cenários estimulados – Manuela tem 23,9% da preferência dos entrevistados, seguida por Luciana, com 14,5%.

Nos outros panoramas apresentados, em que o nome da deputada estadual do PC do B do Rio Grande do Sul aparece suprimido, Luciana assume a ponta – bem à frente de nomes como o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB); o vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (PMDB); o secretário da Educação do Estado, Vieira da Cunha (PDT), e os deputados federais Maria do Rosário (PT) e Nelson Marchezan Jr. (PSDB).

Para o cientista político Luís Gustavo Grohmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ainda é muito cedo para falar em favoritismo, mas não se pode negar que Manuela e Luciana tendem a assumir um papel importante na disputa. “Elas representam correntes que têm alguma expressividade na cidade. E são nomes já conhecidos do público num momento em que temos uma crise de liderança que afeta os partidos como um todo”, avalia.

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Luciana concorreu à Presidência da República em 2014 e obteve 1,55% dos votos. Antes disso, foi deputada estadual e federal pelo Estado. Ela é filha do ex-governador Tarso Genro e militou no PT até 2003. Depois de romper com o partido, fundou o Psol. Foi candidata à prefeitura da capital do Rio Grande do Sul uma vez, em 2008, durante o segundo mandato como deputada federal.

“Não há nenhuma dúvida de que o Psol vai ter candidato em 2016 e não há dúvida de que serei eu a candidata. Não existe contestação interna ao meu nome, e a minha disposição é total”, disse ao Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado. A ex-candidata do Psol a presidente em 2014 entende que estar bem colocada nas pesquisas é um bom começo, mas prefere não criar uma expectativa exagerada em torno de um processo eleitoral que não começou.

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“Eu vou enfrentar partidos muito mais estruturados no sentido de ter mais recursos, mais tempo de televisão. A nova Lei Eleitoral, inclusive, não me assegura o direito de estar nos debates”, disse, acrescentando que a experiência adquirida na campanha nacional serve de bagagem para o pleito de 2016.

Manuela já disputou a prefeitura da capital gaúcha duas vezes, ficando em terceiro lugar em 2008 e em segundo em 2012. Ela começou a carreira política como vereadora da capital, em 2004. Depois, exerceu dois mandatos como deputada federal, entre 2007 e 2015. No ano passado, candidatou-se a deputada estadual e foi a mais votada do Rio Grande do Sul.

Procurada pela reportagem, Manuela não se pronunciou porque está de licença-maternidade, que termina no dia 24, véspera de Natal. Embora o nome da deputada estadual do PC do B do Rio Grande do Sul desponte como candidata natural à prefeitura desde 2014, ela nunca confirmou um possível interesse em disputar a eleição em 2016. Numa entrevista ao Broadcast Político, em fevereiro, Manuela disse que a decisão de voltar ao Rio Grande do Sul não tinha nenhuma relação com qualquer possibilidade de concorrer à administração municipal. “Hoje, sou deputada estadual e estou muito feliz”, afirmou na época.

Alianças

O que se sabe é que a disputa do próximo ano na capital gaúcha terá um diferencial com relação a pleitos anteriores. Desta vez, tudo indica que os aliados históricos PT e PC do B apoiarão um mesmo candidato – o que não ocorreu em 2008 e 2012. “O PT de Porto Alegre tem uma perspectiva de consolidar uma frente de esquerda que terá como vértice central o PT e o PC do B, mas que pode ser ampliada”, disse o presidente do diretório municipal petista, Rodrigo Oliveira. A ideia é que cada legenda apresente nomes e, mais para frente, seja definida uma candidatura única.

Do lado do PT, são cogitados os deputados federais Maria do Rosário e Henrique Fontana e o ex-prefeito da capital Raul Pont. Hoje, no entanto, dois fatores sugerem que a deputada estadual do PC do B deverá estar na cabeça da chapa: os números mostrados pelas sondagens e os desgastes enfrentados pelos petistas em âmbito nacional diante dos escândalos de corrupção.

“Não estamos encarando este debate com a preocupação de encontrar um nome que tenha de ser do PT”, reconheceu Oliveira. Tanto o Psol como o PC do B e PT representam candidaturas de oposição ao prefeito José Fortunati (licenciado do PDT). Como não pode se reeleger, Fortunati tentará emplacar um sucessor, que virá da própria sigla ou de uma agremiação aliada.

Por enquanto, um dos nomes mais cotados é o do vice-prefeito Sebastião Melo (PMDB), que pode ter dificuldades de cair no gosto do eleitorado por ter a imagem associada à do governador José Ivo Sartori (PMDB). Melo foi coordenador de campanha de Sartori no ano passado e teve papel fundamental na estratégia eleitoral. A popularidade do governador do Rio Grande do Sul está em baixa em muitos setores da sociedade por conta das medidas de ajuste fiscal que são implementadas, e o assunto deverá ser bastante explorado pelos adversários.

Quem também pretende apresentar candidatura própria é o PSDB, só que antes o partido tem de lidar com uma dissidência interna. O presidente estadual da sigla, deputado federal Nelson Marchezan Jr., tem intenção de concorrer, mas tem resistência de uma parcela da militância que não concorda com a forma como ele foi conduzido ao comando do diretório.

Em meados do ano, o presidente nacional da legenda, senador Aécio Neves (MG), autorizou uma intervenção no diretório estadual e nomeou uma comissão temporária para presidi-lo. Um grupo dissidente contesta a decisão e pede a realização de prévias para definir qual será o candidato a prefeito de Porto Alegre. A ex-governadora Yeda Crusius, que integra a turma dos descontentes, pôs-se à disposição para uma possível candidatura.

De acordo com Grohmann, da UFRGS, Manuela e Luciana também se beneficiam do fato de outros nomes de peso na política gaúcha, como a senadora Ana Amélia Lemos (PP) e Beto Albuquerque (PSB), não terem demonstrado disposição em concorrer. “No momento, não há candidaturas alternativas. As outras legendas e nomes que poderiam ser fortes não parecem dispostos a entrar na disputa”, disse.

Duelo

Segundo Luciana, para compor a chapa, o Psol deve se unir a siglas tradicionalmente próximas, como o PSTU e o PCB, além de grupos que não têm um registro formal de agremiação, mas que existem enquanto organizações políticas. A ex-candidata do Psol a presidente argumenta que, embora ela e Manuela sejam identificadas como figuras de esquerda, as duas candidaturas, se confirmadas, terão perfis distintos tanto do ponto de vista programático como da formação de coligações. Luciana reconhece, porém, que as duas disputarão uma mesma faixa de eleitorado, travando um confronto direto. “Acho muito difícil que se desenhe um cenário em que nós duas estejamos no segundo turno”, revelou.