Com a remoção do embaixador Sérgio Amaral de Washington, tanto a embaixada brasileira nos Estados Unidos quanto a embaixada americana no Brasil estão, na prática, acéfalas. Quem responde pela embaixada dos EUA em Brasília desde o ano passado é o encarregado de Negócios, William Popp. A expectativa era de que o nome do novo embaixador fosse anunciado para o presidente Jair Bolsonaro no seu encontro com Donald Trump, mas isso não ocorreu.
A partir da publicação da sua remoção no Diário Oficial da União, que ocorreu ontem, Amaral ainda tem dois meses para providenciar a mudança e fazer a transição, mas o que o mundo diplomático, empresarial e político quer efetivamente saber é quem será seu substituto nesse posto, disputado por dez entre dez diplomatas não apenas brasileiros, mas do mundo todo.
No dia 13 de março, num café da manhã com jornalistas, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que trocaria o embaixador do Brasil em Washington – o cargo mais importante do Itamaraty no exterior – e justificou que o ocupante que Amaral não estava defendendo a imagem do Brasil.
Naquela conversa, Bolsonaro justificou que não poderia tirar Sérgio Amaral imediatamente porque estava às vésperas de embarcar para uma visita oficial aos EUA e que a decisão só seria formalizada na volta. Indicado pelo seu amigo José Serra, então chanceler do presidente Michel Temer, Amaral soube do afastamento pela imprensa e começou a arrumar malas, gavetas e acomodação para sua filha, que estuda nos EUA. Mas a visita de Bolsonaro acabou e a demissão não veio.
Depois de o Itamaraty lhe pedir para esperar mais um tempo, Amaral inverteu o jogo: ligou para o Itamaraty em Brasília, alegou que sua mãe está doente e pediu para ser logo transferido. Ele tem dois meses para efetivar a mudança para a representação do Itamaraty em São Paulo, onde morava antes de ir para Washington. Ele é embaixador aposentado, o que não o impede de assumir embaixadas no exterior nem o futuro cargo.
Cotados
Os nomes que chegaram a ser cotados foram o do cientista político Murillo de Aragão, da Consultoria Arko Advice, que era apadrinhado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, e o do ministro de segunda classe Néstor Forster, preferido do chanceler Ernesto Araújo. Aragão não é diplomata e seria algo surpreendente, ou até inédito, nomear alguém fora da carreira para um cargo-chave. E Forster nem foi ainda promovido a embaixador e seria igualmente embaraçoso um diplomata júnior assumir justamente a Embaixada em Washington.
A equipe de Ernesto Araújo está convicta de que caberá a ele a escolha do novo embaixador, mas há dúvidas, por causa do grande envolvimento e influência do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) nas questões externas. Ele é filho do presidente Jair Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e teve destaque em duas viagens aos EUA, inclusive na visita oficial do presidente.
Apesar de Bolsonaro ter dito no café da manhã de março que haveria a troca de cerca de quinze embaixadores, a cúpula do Itamaraty informa que enviou uma lista de 45 nomes para a Casa Civil, incluindo embaixadores que ocupam efetivamente embaixadas, mas também os que chefiam consulados e representações em organismos internacionais. Desse total, seis estão voltando ao Brasil porque se aposentam neste ano.
Alguns nomes confirmados: Carlos Simas Magalhães sai do Paraguai para Portugal, Flavio Damaco vai de Cingapura para o Paraguai, Antonio Patriota, ex-chanceler de Dilma Rousseff, muda da Itália para o Egito. Além disso, Ronaldo Costa assume a representação brasileira junto à ONU, em Nova York, Santiago Mourão vai para a da Unesco e Pedro Bretas, para a da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.