Ávido para diminuir a diferença nas intenções de voto em relação a Marcelo Crivella (PRB), o candidato Marcelo Freixo (PSOL) partiu para o ataque no último debate antes da eleição. Num primeiro bloco de perguntas livres, apertou o adversário ao perguntar sobre igualdade entre homens e mulheres, chamou-o de herdeiro da Igreja Universal do Reino de Deus e lembrou sua postura de faltar a debates e evitar entrevistas. Tranquilo com sua vantagem, Crivella não se alterou. Preferiu fazer perguntas mornas, em torno de programa de governo.

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“Que bom que você não fugiu deste debate, fico feliz”, saudou Freixo. O candidato do PSOL provocou o adversário com perguntas sobre suas declarações a respeito da submissão da mulher. Crivella aparentava tranquilidade.

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Só demonstrou irritação quando perguntado sobre qual era o projeto político da Igreja Universal. “Meu Deus do céu, Freixo não desiste. É uma obsessão. Há três semanas o Freixo só fala isso no programa de televisão. Quero esclarecer que Igreja não tem projeto político nenhum”, afirmou, provocando risos da plateia.

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Depois, ao ter a primeira pergunta propositiva, sobre direitos do animais, respondida por Freixo, ironizou. “Você vê em casa que quando o Freixo trata de proposta, ele fica encantador. Quanto não ofende a gente, as propostas são perfeitas”, disse Crivella.

No segundo bloco, com temas sorteados, o debate esfriou. O maior confronto ocorreu quando Freixo afirmou que Crivella está aliado a Rodrigo Bethlem, flagrado numa gravação em que afirmava proteger um empresário dono de empresas de ônibus. Freixo disse que Crivella não poderia negar a participação de Bethlem, que esteve em comício do candidato do PRB na quinta-feira (27). “Freixo, você é defensor dos direitos humanos, quer que Bethlem fique preso em casa? A praça é pública”, respondeu Crivella. “Só falta você me querer fazer acreditar que ele estava passando por ali, não tinha nada para fazer e subiu no palanque?”, respondeu Freixo.

Os candidatos também se enfrentaram quando Freixo criticou o adversário por mandar uma equipe na casa da família do pedreiro Amarildo de Souza para gravar vídeo com acusações contra Freixo. “Essas coisas ocorrem porque o candidato Freixo fez tantas coisas erradas que a militância, fica difícil a gente conter, acaba fazendo coisas que eu recrimino. Que são completamente erradas”, respondeu Crivella. E emendou: “Eu quero aproveitar esse momento para uma coisa melhor, que é dar parabéns aos funcionários públicos”.

Foi duramente criticado por Freixo. “Essa mulher tem problema sério de saúde. Perdeu o marido, torturado e desaparecido. Quando o Amarildo desapareceu, eu estava do lado da família. Você estava do lado do Sergio Cabral, você fazia parte daquele governo. A família do (cinegrafista) Santiago Andrade está processando você (morto numa manifestação, teve as imagens usadas no programa de Crivella). A família do delegado (João Kepler) Fontenelle (que prendeu Crivella por invasão de domicílio) está processando você. E a família do Amarildo está processando você. São três famílias órfãs que você desrespeitou no seu fanatismo de ser prefeito a qualquer preço. Você não respeita nem quem morreu, Crivella”.

Outro embate se deu quando Freixo perguntou por que o adversário teve contas em paraíso fiscal. “Freixo quer ser meu biógrafo. Ele muda toda a história. Se o processo foi arquivado foi porque não tinha prova. Defensor de direitos humanos não pode condenar sem prova. Você só pode me acusar de empobrecimento ilícito. Doei R$ 20 milhões de direitos autorais para os pobres”, respondeu.

Ao que Freixo respondeu: “Não é acusação, é uma pergunta. Porque um pastor tem empresa em paraíso fiscal?”. E lembrou ainda que Crivella fez tratamento dental e cobrou R$ 65 mil reais dos cofres públicos “para usar esse sorriso largo”. “Não é crime. Mas não é ético”.

Crivella chegou à Globo às 21h45, uma hora depois de seu adversário, mantendo suspense sobre sua presença no debate. Nos últimos dias, ele vinha cancelando participação em sabatinas e entrevistas. Avisou que não participaria de programa da CBN a nove minutos de a entrevista ir ao ar.

Crivella entrou no estúdio da Globo ao som de “ooooô Crivella chegou / acabou o caô”, paródia do jingle de campanha de Indio da Costa (PSD), adversário derrotado no primeiro turno e que anunciou apoio ao bispo licenciado da Igreja Universal. O candidato do PSOL foi saudado aos gritos de “Uh! É o Freixo!”.

Cada candidato foi acompanhado de dois assessores. A plateia de Freixo ficou à direita da apresentadora Ana Paula Araújo. Entre eles, o ator Gregório Duvivier e o vereador eleito Tarcísio Mota. À esquerda, os apoiadores de Crivella.

“O debate foi como eu esperava: do meu lado, propostas”, afirmou Crivella, após o encontro. “A estratégia dele é própria dos desesperados”.

Freixo disse que não perdeu as esperanças. “O último debate do primeiro turno definiu o primeiro turno. Isso pode acontecer de novo. A diferença entre mim e o Crivella foi menor do que as pesquisas previam (no primeiro turno), e talvez agora essa diferença também esteja menor.” (Wilson Tosta, Fabio Grellet e Clarissa Thomé)