“Eu desempatei a eleição na cidade”, disse a aposentada Rita Marques, moradora de Três Ranchos, município de 2,8 mil habitantes, a 31 quilômetros de Catalão, no sudeste de Goiás, no qual o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) venceu Fernando Haddad (PT) por apenas um voto numa campanha que entra para a história política nacional como das mais tensas corridas pelo Palácio do Planalto. Com o eleitorado dividido e agora entrando num clima de tolerância, Três Ranchos deu a Bolsonaro 1.183 votos contra 1.182 do adversário petista. A vitória apertada foi registrada também em Pontão (RS): 1.297 a 1.296 votos. No País, o presidente eleito, que já tem Sérgio Moro, o principal algoz do PT de Lula, como ministro, teve vantagem de 10 milhões de votos.

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“No primeiro turno eu votei em branco, agora votei contra o PT”, afirmou a aposentada na última quarta-feira, quando tratava das unhas num salão de beleza da cidade goiana. Bem-humorada, ao lado da vizinha Fabiane Maria de Araújo, dona de casa que declarou ter votado em Haddad nos dois turnos, a aposentada disse que foi de Bolsonaro para impedir o PT de voltar ao poder. “Não sou Bolsonaro. Meu voto foi contra o PT”, argumentou Rita Marques.

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Na realidade, ela não tem como saber se foi o voto dela que definiu o placar pró-Bolsonaro na cidade. A Justiça Eleitoral tem um sistema de proteção ao sigilo do voto que impede essa identificação. “O sistema faz um embaralhamento dos dados exatamente para proteger o eleitor”, explicou Wandir Allan, presidente da Comissão de Combate à Corrupção Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO). “Os votos são captados de forma aleatória e não é possível saber de quem foi”, explicou o advogado.

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A aposentada não quer nem saber das justificativas técnicas. “Fui eu, sim”, brincou Rita, no salão. Ela contou que votou na seção 117, no centro da cidade. Nesta urna, Bolsonaro perdeu: obteve 88 votos contra 114 do petista. Três Ranchos tem 11 seções da Zona 8, jurisdição eleitoral de Catalão. O presidente eleito venceu em seis e perdeu em quatro seções. Na seção 118, empate: ambos com 119 votos.

Atendidas por uma moça que não quis ser identificada, mas admitiu ter ido de Bolsonaro, as moradoras de Três Ranchos acreditam que a convivência pacífica não deve sofrer alteração por causa da disputa presidencial. “O que pega aqui é a eleição para prefeito”, explicou o empresário Leomilson Santana, de 40 anos, Bolsonaro roxo de tão verde-amarelo nesta campanha. Filho do vice-prefeito Milson Santana (PSD), ele ainda mantém o cartaz (Bolsonaro 17) no vidro traseiro do carro.

Ao lado de Marcos Vinícius da Silva Wanderley, de 28 anos, desempregado, Santana relatou que já votou em Dilma e Lula. “Agora, não deu”, afirmou o empresário. O argumento dele para a mudança foi a promessa bolsonariana de controlar a segurança pública no País. Wanderley discorda. Apoiador de Ciro Gomes (PDT), ele disse que, no segundo turno, foi “de Haddad”. Na oficina de carros da Av. Coronel Levino Lopes, ao lado da Prefeitura, onde os dois conversavam na quarta-feira, o assunto era a surpresa da votação de Haddad.

O desempenho do PT pode ter sido impactado pela abstenção local, avalia o professor José Luiz Vaz. Segundo Vaz, filiado ao PT, as eleições tradicionalmente registram eleitorado flutuante.

“Temos mais eleitores do que moradores”, explicou Haroldo Calaça Coelho, chefe de gabinete da Prefeitura. Crescendo às margens da Represa Emborcação, que usa as águas do Rio Paranaíba para geração de energia, o município tem 2.819 moradores, mas conta 3.496 eleitores. “Gente que vive fora retorna na eleição”, disse o assessor do prefeito Hugo Deleon de Carvalho Costa (PSDB).

Desta vez, porém, cerca de 900 eleitores não compareceram. Para o comerciante Wilson Ribeiro da Silva, 53 anos, o petista mais conhecido da cidade, a votação surpreendeu por não ter havido campanha ostensiva de Haddad. “No segundo turno, fizemos uma carreata que tinha 12 carros e no último dia”, lembrou. Para ele, o voto em Bolsonaro foi “um protesto” contra o grupo político local, liderado por PSDB e MDB.

O governador goiano eleito, já no primeiro turno, foi Ronaldo Caiado (DEM), que obteve na cidade 1.145 votos, contra 594 de Zé Eliton (PSDB) e 206 votos de Daniel Vilela (MDB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.