O ex-ministro da Justiça Tarso Genro (PT) venceu hoje a eleição para o governo do Rio Grande do Sul no primeiro turno. O fato é inédito na história política do Estado, acostumado a disputas acirradas, sempre decididas na segunda rodada, por pequena margem de votos. Às 20h33min, quando 96,53% das urnas já haviam sido apuradas, o candidato da coligação Unidade Popular Pelo Rio Grande (PT, PR, PSB e PC do B) tinha 3.318.452 votos, correspondentes a 54,23% dos válidos, e não podia mais ser alcançado pelos concorrentes.
O ex-prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), tinha 1.512.890 votos (24,76%). A governadora Yeda Crusius (PSDB), que buscava a reeleição, estava em terceiro lugar, com 1.123.952 votos (18,39%). Pouco depois de saber que a vitória estava assegurada, Genro deixou sua casa e foi para o comitê de campanha. Ao sair, declarou aos repórteres que quer unir o Estado em torno de um programa que não considera neutro.
Advogado, 63 anos, nascido em São Borja, Genro conquistou o governo gaúcho depois de duas tentativas malsucedidas. Em 1990, quando ficou em quarto lugar, ele concorreu somente para marcar espaço para o PT, à época um pequeno emergente, no território político estadual. Em 2002, largou a Prefeitura de Porto Alegre e provocou uma prévia que alijou da disputa o então governador Olívio Dutra, candidato natural à reeleição. Como perdeu a eleição, no segundo turno, para Germano Rigotto (PMDB), foi criticado pela sucessão de erros.
Desta vez, no entanto, Genro e o PT gaúcho fizeram uma campanha meticulosamente planejada para dar certo. Ainda na metade do ano passado, lançaram a candidatura por consenso e anteciparam-se a um possível pedido de apoio ao PMDB, de correntes do diretório nacional do PT, em troca da ampliação do palanque para Dilma Rousseff no Estado. No início deste ano deixou o Ministério da Justiça e passou a percorrer o Estado colhendo subsídios da sociedade para o plano de governo. Também negociou as adesões do PSB, do PC do B e do PR, além de atrair a simpatia de setores do PDT e até, pontualmente, de algumas lideranças do PTB, do DEM e do PP, rompendo com o tradicional isolamento do PT no Estado.
Lula
Quando a campanha começou, no entanto, é que veio a maior força: o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tarso se apresentou como o candidato que poderia casar os programas do Estado com os do governo federal. “Pelo fato de ter participado sete anos do governo Lula me credenciei como representante do projeto do presidente”, reconhece o governador eleito, que também admite que sua campanha e a de Dilma Rousseff à Presidência ajudaram-se mutuamente.
Se observados os números das pesquisas do Ibope, a curva dos dois foi semelhante no Estado. Genro largou com 39% no início de julho e tinha 48% no final de setembro. Dilma oscilou de 37% para 47%. Desde o amanhecer, a coligação de Genro demonstrava convicção de que venceria a eleição. Quando chegou ao Hotel Plaza São Rafael, no centro de Porto Alegre, para o café da manhã com Dilma Rousseff e cerca de 250 lideres políticos de sua aliança (PT, PSB, PC do B e PR), o candidato não dissimulou seu otimismo ao dizer que nunca havia participado de uma campanha que desse tão certo como a deste ano.
Apesar da tendência detectada nas pesquisas, os concorrentes mais próximos de Genro passaram o dia falando em reversão da expectativa. Em sua primeira atividade, Fogaça falou para cerca de 150 militantes reunidos na sede do PMDB afirmando que as urnas iriam surpreender e decepcionar os pessimistas. À noite, reconheceu a derrota e agradeceu o esforço da militância. Yeda visitou emissoras de rádio e televisão afirmando que, a exemplo de 2006, a eleição traria surpresas.
Senado
Estreante na política, a jornalista Ana Amélia Lemos (PP) conquistou uma das vagas do Rio Grande do Sul para o Senado. A outra permanece com Paulo Paim (PT), que se reelegeu. Pedro Simon (PMDB), eleito em 2006, tem mais quatro anos de mandato. O ex-governador Germano Rigotto (PMDB) ficou de fora. Apuradas 95,99% das urnas, Paim tinha 3,76 milhões de votos (33,82% do total), Ana Amélia tinha 3,29 milhões de votos (29,56%) e Rigotto tinha 2,36 milhões de votos (21,24%).