Do total de 1.243 candidatos que concorreram a uma vaga na Câmara Federal pelo Estado de São Paulo neste ano, 56 se apresentaram ao eleitorado ostentando o título de “professor”. Nenhum foi eleito.

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No conjunto, eles somaram 155.930 votos – o equivalente à décima parte do total de 1,5 milhão obtidos pelo apresentador de TV Celso Russomanno, primeiro colocado na corrida para o cargo de deputado federal. Os professores não chegaram à metade dos votos do terceiro colocado, Pastor Marco Feliciano, dono de 396 mil votos.

O docente mais bem votado foi o Professor Fláudio, de 53 anos, filiado ao PT e integrante da diretoria colegiada do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Com 61.347 votos, ele ficou na 103.ª posição no ranking da eleição.

O concorrente menos cotado foi a Professora Cris, de 42 anos, que disputou pelo PRTB, partido de Levy Fidelix. Ela saiu do pleito com 43 votos, na 1.228.ª posição.

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Os dois lecionam na rede pública de ensino do Estado de São Paulo. Fláudio Azevedo Limas dá aulas de história e Cristiane Barboza, de educação física. Ele é vice-prefeito de Itapevi e milita no PT desde a década de 1980. Ela acabou de estrear como candidata.

Os denominados “professores” foram os que se saíram da pior maneira da eleição. Mas não foram os únicos a ter pouca consideração do eleitor no conjunto dos candidatos que se alinharam sob o guarda-chuva de categorias profissionais e assemelhadas.

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Veja-se o exemplo dos que usaram os títulos de “doutor” e “médico” na sua apresentação. Com 67 candidatos e 536.060 votos, o grupo só elegeu uma pessoa – o Doutor Sinval Malheiros, médico de 63 anos que concorreu pelo PV e obteve apoio de 59 mil eleitores.

O grupo que agregou categorias ligadas à religião evangélica (“pastor”, “apóstolo” e “missionário”) perfilou 16 candidatos. Além do Pastor Marco Feliciano, só elegeu o Missionário José Olímpio, filiado ao PP, o partido de Paulo Maluf. Ele obteve sozinho 155 mil votos, o mesmo que todos os professores juntos.

Policiais militares e civis também só elegeram um candidato: o Major Olímpio, ex-deputado estadual do PDT que chega à Câmara empurrado por 179 mil votos.

Além do baixo número de votos, o caso dos professores chama a atenção pelo descompasso entre o que se diz na campanha e o resultado das urnas. A valorização da educação já virou uma espécie de mantra eleitoral no País, tanto na boca de líderes partidos quanto de candidatos e eleitores. Como é que se explica então o que se viu em São Paulo?

Um dos motivos apontados pelo professor Fláudio é a desvalorização do magistério. “Há um desencanto geral com a educação e com a atividade do professor, principalmente em São Paulo”, diz ele. “O professor era mais valorizado. O que se viu em São Paulo, nas eleições para a Assembleia e a Câmara, é que a turma da bala foi mais valorizada que a do giz e da lousa.”

A Professora Cris atribui o baixo número de votos à falta de apoio do partido e ao sistema eleitoral do País: “O poder econômico é que está decidindo as eleições no Brasil. Só se elege quem tem apoio do grande capital. Quem conta apenas com boas ideias não chega lá”.

O professor Carlos Giannazi, do PSOL, que acaba de se eleger pela terceira vez consecutiva para a Assembleia Legislativa, com 167 mil votos, tem outra opinião.

Eleito sempre com o apoio do professorado e sem nunca ter utilizado o título de professor no registro da candidatura, ele diz: “O fato de usar um título na campanha não significa nada para os professores. Eles já sabem quem está realmente do lado deles. Metade dos projetos que já apresentei atendem a interesses da rede pública de ensino e cerca de 70% da minha votação vem, seguramente, do magistério estadual e municipal.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.