Em seminário da ANJ, debatedores defendem ética

O impacto das novas tecnologias na vida dos jornais e de toda a mídia é imenso, e impõe mudanças profundas, mas ética é sempre ética, em qualquer ambiente ou situação, e não faz sentido se pensar em uma “ética digital”.

Essa foi a resposta dada hoje, em seminário na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, pelos debatedores Pedro Dória, editor executivo do jornal O Globo, e Eugênio Bucci, diretor da escola e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, ao tema “Há um ética digital e uma ética analógica?”. Com eles concordou o moderador do debate, Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado.

Ao longo do dia, três outros painéis discutiram questões jurídicas e trabalhistas envolvendo blogs pessoais, Twitter usado por jornalistas, códigos na relação com internautas e redes sociais e formas que permitam às empresas de comunicação superar esses desafios. O seminário Desafios Éticos e Legais nas Empresas Jornalísticas foi promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ)e pela ESPM.

“Jornalismo é jornalismo. Não deveria haver éticas diferentes”, disse Dória, na abertura do painel. Ele admite que se está lidando com coisas novas: esse mundo “tem 16 anos, o iPad surgiu há um ano e meio, e está tudo sendo inventado”. “Como regular questões como anonimato, regras, garantias de direitos? Como saber os limites ou os perigos?”

Bucci analisou a questão do anonimato, “que ao mesmo tempo tem servido de esconderijo para violências, mas que, muitas vezes, é também o último recurso para se manifestar em certas circunstâncias”. Ele abordou a questão da cobrança feita por alguns jornais pelo acesso ao conteúdo na rede. “É fundamental que a sociedade pague pelo produto jornalístico”, afirmou, já que a informação “é um bem de interesse de toda a comunidade”. Mas advertiu que o País “está longe, ainda, de resolver isso”.

Bucci despertou polêmica ao afirmar que não considera a internet um meio de comunicação, mas “um segundo grau de abstração da sociedade” – o primeiro seria a própria esfera da vida pública. “Se ela for considerado meio de comunicação, aí vem a tentativa de regulação, como já se tentou por aqui meses atrás, e seria um desastre.”

Ao final do painel, Gandour disse que o importante “é manter viva essa discussão, pois o que está em jogo é a manutenção da relevância do ofício jornalístico”.

Blogs

Nos painéis seguintes, o debate ético e moral seguiu permeando outros temas. O blog é do jornalista ou do jornal? Moderar comentários é censura? Como lidar com abusos e ataques partidos de um site de fora do País? Como preservar a credibilidade e abrir-se às redes sociais? Deve-se assimilar ou refutar o papel do Twitter – que um dos palestrantes definiu como “o paraíso dos Narcisos”?

“Os limites da mídia impressa devem ser seguidos no mundo virtual”, avaliou o advogado Alexandre Jobim, da ANJ. Gandour defendeu “a liberdade total de se publicar e, depois, se entender com a justiça se houver abusos”. Bárbara Nickel, do jornal Zero Hora, sustentou que “o Twitter é uma oportunidade e também um campo minado”.

Marco Chiaretti, da S/A Comunicação, lembrou que o jornalismo “já era um campo minado no século 18, na Revolução Francesa”. Para Chiaretti, sempre houve alguma rede social. A diferença é que “hoje o público das redes sociais é muito maior e a velocidade também”.

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