No período em que passou na pequena cidade de Maranello, no norte da Itália, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato adotou um estilo discreto, mas não recluso, segundo relatos de vizinhos. Todos os dias, exatamente no mesmo horário, deixava a casa do sobrinho, cruzava a rua e entrava num mercado para comprar comida. Costumava caminhar pelas ruas da região central relativamente tranquilo.
O homem cordial, que costumava cumprimentar a todos que encontrava, jamais gerou qualquer suspeita na vizinhança. Moradores ouvidos pelo Estado garantem que o brasileiro estava na cidade há vários meses e saía diariamente de casa.
A versão contradiz a informação prestada ontem (6) pela Polícia de Módena, de que Pizzolato estaria na cidade há apenas uma semana. Conforme a polícia local, ele não saía de casa e mantinha todas as janelas fechadas durante todo o dia.
Segundo os policiais, ao entrarem na residência, o que chamou a atenção foi a quantidade de comida estocada. “Era como se ele estivesse se preparando para ficar vários dias sem sair de casa”, contou Stefano Savo, comandante da Polícia de Módena.
O certo era que o brasileiro ocupava um dos quartos do apartamento do sobrinho Fernando Grando, na via Vandelli – um sobrado de dois andares no número 167, cujo valor do aluguel não chega a 800 por mês.
O local é em um dos cruzamentos mais movimentados da pequena cidade, rodeado por lojas, restaurantes, supermercados e outros estabelecimentos.
Gentil
O clima lembra uma típica cidadezinha do interior, onde vivem apenas 17 mil habitantes. Em Maranello, qualquer novo morador é comentado e notado. Para a cabeleireira Giorgia Vitali, que tem seu estabelecimento colado à casa do sobrinho de Pizzolato, o brasileiro já estava na cidade “antes do Natal”. “Parecia ser uma pessoa gentil”, contou. “Ele saudava e eu saudava de volta. A última vez que o vi faz já algumas semanas”, disse Giorgia.
Moradores ouvidos pela reportagem disseram que levaram um susto com a operação da polícia no local. “Eu achava que isso só ocorria em filmes”, disse Giordana Richieri. Ela também afirma que via Pizzolato “com frequência” andando pelas ruas.
Do outro lado do apartamento na via Vandelli, o empresário Gaetano, proprietário do mercado Sigma, contou que reconheceu quando viu a foto dele no jornal. “Logo entendi quem era a pessoa”, disse. “Ele vinha todos os dias pela manhã, por volta das dez horas. Comprava pasta, lasanha congelada, cerveja e pagava tudo em dinheiro”, disse o empresário, que pediu para não ter seu sobrenome revelado. “Agora que entendi que ele é um homem perigoso. Pessoalmente, parecia alguém muito distinto, muito sério e que falava pouco”, comentou.
Gaetano também revelou que Pizzolato jamais ia ao supermercado com sua mulher e que era um dos poucos clientes que costumava aparecer também aos domingos.
Reclusos
Se antes da prisão de Pizzolato a vida da família era relativamente tranquila, a casa se transformou em uma espécie de cativeiro desde anteontem (5). A mulher de Pizzolato, Andrea Haas, mantém todas as janelas fechadas e as luzes apagadas. Ontem (6), apenas apareceu na porta quanto um policial visitou a residência. Ela se recusou a falar pelo interfone com os jornalistas que faziam plantão no local.
O sobrinho de Pizzolato, Fernando Grando, que é engenheiro da Ferrari – cuja sede está localizada em Maranello – costumava ir caminhando para o trabalho ou de bicicleta. Ontem (6) entrou rapidamente depois de ter sido deixado por um carro na porta. Ele se recusou a atender aos jornalistas. Na garagem do sobrado, permanecia estacionado o Fiat vermelho comprado pela mulher de Pizzolato ainda na Espanha.
A Polícia Federal já informou que vai investigar a participação da mulher e do sobrinho de Pizzolato na fuga do ex-diretor do Banco do Brasil para a Itália. O petista fugiu em setembro de 2013 com passaporte falsificado em nome de um irmão morto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.