O debate entre economistas de presidenciáveis diante de agentes do mercado financeiro na manhã deste sábado, 22, em São Paulo foi marcado pela troca de críticas mútuas, com convergência, porém, na preocupação com a questão fiscal do País. Houve aplausos, risadas, assobios e até vaias vindas da plateia, num auditório quase lotado com capacidade para 7 mil pessoas. O painel na feira Expert, da XP Investimentos, teve como principal tema a necessidade de realização de mudanças nas contas públicas em busca do ajuste fiscal. As reformas da Previdência e tributária foram algumas das pautas discutidas pelos economistas.
Em meio a críticas dos pares no debate, o economista Guilherme Mello, da campanha de Fernando Haddad (PT), afirmou que o País precisa assumir que o tamanho da recessão brasileira não pode ser atribuído à condução da economia pelos governos do PT. “Não temos problemas em reconhecer erros na política econômica. Houve equívocos, que a presidente Dilma Rousseff já reconheceu. Mas daí a dizer que essa recessão, do tamanho que é, aconteceu somente por causa da política econômica”, disse, emendando que o governo de Michel Temer (MDB) está sendo “um desastre”.
Pela campanha do MDB, com o candidato Henrique Meirelles, o economista José Marcio Camargo, afirmou que é “curioso” o economista do PT chamar o governo Temer de desastroso. Defendeu as medidas tomadas por Meirelles, quando ministro da Fazenda, e citou como feitos importantes a reforma trabalhista e o teto dos gastos. “O Meirelles assumiu o Ministério da Fazenda com uma recessão espetacular, semelhante a países que estão em guerra civil. Dadas as reformas implementadas, como teto dos gastos, trabalhista, o País voltou a crescer.” Camargo também argumentou que o Brasil está reagindo melhor ao atual choque de oferta, que classificou como “muito maior” que aqueles observados em anos anteriores.
O economista Persio Arida, da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), criticou o que chamou de “glorificação” da gestão Lula no governo federal, assim que Mello, do PT, destacou superávit primário mais expressivo da história. “A gestão Lula sempre é glorificada e citada como por fazer um bom governo de esquerda. Porque ele presidiu o Brasil quando o mundo estava vivendo o ‘boom’ de commodities”, disse Arida, acrescentando que o Chile aproveitou o boom das commodities no início dos anos 2000, diferentemente do governo Lula.
Fiscal
Mello afirmou que o “grave problema fiscal” não pode ser solucionado apenas a partir de um ajuste nas contas públicas. Depende também, disse o economista, da retomada do crescimento econômico. “Não há resolução fiscal possível com uma economia estagnada”, disse o petista.
Bazileu Margarido, dirigente da Rede e coordenador financeiro da campanha de Marina Silva, afirmou que mudanças na Previdência são necessárias, mas indicou que a proposta que está no Congresso Nacional não evidencia um “senso de justiça” e, assim, não tem a aderência da sociedade. “O Brasil entrou num déficit fiscal estrutural que necessita de reformas da Previdência, bancária, tributária. Agora, sem a sociedade enxergar senso de justiça, sem um projeto de bases claras que reúna o empresariado, a sociedade, a academia, os trabalhadores, o País vai continuar patinando”, disse Margarido.
O economista Nelson Marconi, colaborador da chapa do presidenciável Ciro Gomes (PDT), acrescentou que a baixa produtividade da economia brasileira é problema que deriva de uma série de fatores, sendo o primeiro a questão fiscal. Defendeu a redução de despesas a partir de algumas reformas, entre elas as da Previdência e tributária. Nessa última, a proposta tem como essência impor maior tributação sobre a renda e menor sobre a produção. “Não será possível resolver o problema fiscal só com queda de despesas. É preciso da retomada do crescimento, via retomada de investimentos”, completou Marconi.