Em discurso no evento Circo da Democracia, realizado em Curitiba na noite desta segunda-feira (8), a presidente afastada, Dilma Rousseff (PT) , defendeu a realização de um plebiscito com duas questões: a primeira sobre a realização de novas eleições e a segunda sobre reforma política.
Sem poupar as palavras, criticou o processo de impeachment e afirmou que os “golpistas” querem substituir um colégio eleitoral de“milhões de pessoas por um “colégio parlamentar”, em referência ao Congresso, onde o pedido de seu impedimento tramita.
A um dia da possível pronúncia de seu impedimento no Senado, a presidente afastada seguiu na toada de críticas contra o presidente interino, Michel Temer (PMDB), o qual qualifica de “ilegítimo”. Ela disse que a atual administração é formada por homens “velhos, ricos e que têm problema na Justiça”. Dilma atacou ainda as propostas de Temer para mexer na legislação trabalhista e no Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre os alvos da presidente afastada, durante o discurso de meia hora, também estiveram a antiga oposição – e atual situação -, além da imprensa e do capital especulativo. O pato da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), parte de uma campanha que defendia que não houvesse alta de impostos no ajuste fiscal, também foi alvo das baterias de Dilma, assim com a elite brasileira. Segundo ela, os mais ricos sempre querem que o povo pague a conta, mesmo que, nos momentos de bonança, sempre tenha sobrado mais “para este 1%”, de mais ricos do país.
Público
Os cerca de dois mil presentes ao Circo da Democracia nesta segunda-feira, na estimativa da reportagem, acompanharam atentamente ao discurso da presidente afastada. Formada principalmente por membros de movimentos sociais, profissionais liberais e servidores públicos, a plateia reagiu às colocações dela aos gritos de “Fora Temer” e “Volta Dilma”.
Maria Aparecida Pimentel Arruda mora no Boqueirão e diz ter como vindo ao Circo da Democracia para ajudar a denunciar o golpe contra Dilma. “O golpe está consumado. Mas temos um histórico de luta desde 1964 e temos de nos manifestar”. Ela chegou ao evento por volta das 16 horas e aguardava chegada de Dilma junto com com Sônia Hoffmann, que mora no Juvevê e também vê ilegalidade no processo de impeachment em curso no Brasil.
Devido à visita de Dilma, o circo da Democracia teve segurança reforçada nesta segunda. Dezenas de seguranças se esforçaram para impedir a entrada de não credenciados ao espaço destinado aos cerca de 600 convidados do evento. A imprensa não pode acessar esse espaço é ficou confinada em um espaço separado. Já o público geral assistiu ao debate das escadarias da UFPR. Em todos os espaços, havia cartazes e bandeiras em apoio à Dilma. Camisetas que “ denunciavam o golpe” eram vendidas a R$ 20.
Dilma chegou por volta das 18h30 e foi recebida c a canção Al otro lado del Rio, do uruguaio Jorge Drexler. A canção foi trilha sonora do filme Diários de Motocicleta e venceu o Oscar de 2005. Ela foi tocada para Dilma pela Orquestra Latino Americana da Faculdade de Artes do Paraná.
Sentada ao lado dos senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e Gleisi Hofffmann (PT-PR), Dilma também ouviu os discursos da poeta curitibana Alice Ruiz, do coordenador estadual do MST, Roberto Baggio, de Regina Cruz, presidente da CUT no Paraná, e de Marcello Lavennere, ex-presidente da OAB e um dos autores do pedido de impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Foi durante principalmente em discurso de Lavennere que p público entoou com mais força manifestações contra o papel do juiz Sergio Moro, condutor da Operação Lava Jato. Para Lavennere, Moro age “como um juiz pop star e que toma para si o papel do MP de acusar”.
O público, inclusive, aplaudiu todas as referências às chamadas injustiças contra Dilma e não arredou o pé da Praça Santos Andrade até o final do discurso da presidente afastada.Após a fala dela, a organização do evento tocou a música Vou Festejar, que ficou famosa na interpretação de Beth Carvalho.
A PM e a organização do evento ainda divulgaram suas estimativas de público.