Após assistir à missa das 9 horas, no auditório do Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, respondeu hoje à imprensa questões sobre sua religiosidade, aborto e o debate com José Serra (PSDB) realizado ontem. Dilma começou explicando por que decidiu rezar na basílica de Aparecida ao iniciar a campanha do segundo turno.
“É a primeira vez que venho à Basílica, mas tenho devoção especial a Nossa Senhora, mais especial a Nossa Senhora Aparecida, por circunstâncias recentes na minha vida. Preferiria não falar sobre isso, é uma questão pessoal. Prefiro ter uma manifestação (religiosa) mais recatada. Minha religião diz respeito à minha convicção, à imagem de Deus dentro de mim”.
Mais adiante, quando um repórter insistiu no assunto, informando que do lado de fora, enquanto ela falava à TV Aparecida, um devoto estranhou a sua presença ali – “pois Dilma não é católica e está fazendo do santuário um palanque” – a candidata retomou a questão. “Ninguém tem o direito de dizer qual é a minha crença. Quem pode julgar sobre crença religiosa é Deus,” rebateu.
“Eu fui por opção para um colégio de freiras. Naquela época, eu queria fazer a primeira comunhão. Sou da época em que era muito importante o retiro espiritual. Tenho uma formação religiosa muito forte. Nos caminhos que sua vida toma, você muitas vezes faz atalhos, faz desvios, mas você sempre volta ao seu caminho. Eu tive um processo recente e esse processo me fez retomar várias coisas.” Dilma se referia ao câncer de que tratou há alguns meses, mas insistiu que não queria falar sobre o assunto, quando um jornalista perguntou se estava se referindo à doença.
Com relação ao debate de ontem na Rede Bandeirantes, Dilma justificou o tom considerado agressivo que adotou ao enfrentar José Serra. “Passei muito tempo calada, mas quando vi o tamanho que tomou essa central organizada de boatos, resolvi tornar público e compartilhado o que estou sofrendo, não indo para a internet em forma de boatos, mas de forma aberta. Sempre me recusei a baixar o nível do debate, e vou continuar não baixando. Quando se tem só dois debatedores, as opiniões ficam mais claras. O debate foi em alto nível, ninguém elevou o tom de voz. Meu adversário tem mania de subestimar as pessoas. Esperava que eu não apresentasse minhas propostas, que não criticasse a estratégia dele? Vamos fazer um debate de ideias e não divulgar boatos e calúnias.”
Dilma disse que, quando se fala que ela é favorável ao aborto, a questão não é só essa, é mais ampla. “Não é sobre isso a discussão. Não acho que sejas algo que se pode atribuir só à religião. A questão são os boatos. As pessoas falam e não aparecem. Tem um conteúdo eleitoral fortíssimo. Surgiu no primeiro turno. É o que faz o candidato a vice da outra chapa (Indio da Costa) e a esposa de José Serra. Quando faço crítica, faço cara a cara, olho no olho. Considero que isso é muito ruim politicamente. Este País que não conhece o ódio tem de ter convivência humana, um valor fundamental. Insistir no ódio para fins eleitorais é imperdoável”.
Segundo o reitor do Santuário da Aparecida, padre Darci Nicioli, a questão do aborto tem, sim, incomodado os fiéis. “A gente sabe isso pelas conversas com os romeiros e pelas confissões”. Na avaliação do padre, o governo e o PT menosprezam o peso que a discussão sobre o aborto tem entre os católicos.