Se formassem um Estado, os 7,5 milhões de eleitores que moram em favelas constituiriam o sétimo maior colégio eleitoral do País (5% do eleitorado nacional), à frente do Ceará (com 6,2 milhões de eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral) e atrás de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. O Instituto Data Popular traçou um perfil dos eleitores de favelas. Concluiu que eles consideram que, nos últimos anos, melhoraram de vida por meios próprios e em proporção maior que o País. Agora, miram no futuro.
“Esta é uma eleição de futuro e não mais de legado. O novo eleitor da favela está mais interessado em saber quem vai garantir um futuro melhor para ele”, disse Renato Meirelles, presidente do Data Popular, instituto privado que se dedica a estudos e pesquisas sobre as populações de baixa renda.
Os moradores de favelas, que, de acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) são 11 milhões, passaram a entender que os serviços públicos não são um favor oferecido pelo governo, mas uma contrapartida pelo pagamento de impostos. “São eleitores mais exigentes e críticos aos serviços públicos”, afirmou o especialista.
Essas pessoas, conforme o perfil preparado pela instituição, consideram que “educação é o item mais importante para vencer na vida”, seguida por saúde e segurança. Por outro lado, rejeitam discursos que não entendem, que não se aproximam do dia a dia e acusações diretas contra os adversários.
“Eles não querem alguém que simplesmente tire o lugar do outro candidato, mas que possa resolver a vida deles. Querem mudança e não alternância.”
Sobre a economia, os moradores de favela sonham em ser empreendedores – somente este ano, movimentarão R$ 64,5 bilhões. Para isso, precisam de financiamento e capacitação específicos para a realidade da favela. Como exemplo, Meirelles cita que a moradia também pode ser usada como fonte de renda pela integração entre o lar e o negócio próprio.
“A favela tem um sistema econômico próprio, colaborativo, que faz com que as famílias não queiram sair do bairro (dois terços não deixariam a favela nem se a renda dobrasse). Não querem remoções, mas melhorias nos serviços públicos.”
Em relação à religião, Meirelles explica que “a identificação com os valores do candidato” pesa mais para o eleitor da favela do que a indicação de um líder ou o fato de serem “irmãos de fé”.
Mito
O Data Popular também levantou dados sobre as preferências eleitorais de jovens (45 milhões de pessoas; 33% do eleitorado). Apesar de demonstrarem otimismo em relação ao futuro pessoal, 63% acreditam “que o Brasil não está no caminho certo”. Até a entrada de Marina Silva (PSB) na corrida eleitoral eles votavam nulo, em branco ou estavam entre os indecisos. No entanto, 7 em cada 10 têm certeza que o “voto pode mudar o País”.
Meirelles afirma que as alterações nas eleições, com a disparada de Marina nas intenções de voto, se deu pela criação de uma “aura” de mudança política em torno da substituta de Eduardo Campos, morto em 13 de agosto vítima de um acidente aéreo.
“Quanto mais curto o período eleitoral, maior a chance dela (Marina) vencer porque é o mito que concorre (contra os demais candidatos). Com o passar do tempo (até o segundo turno), aumenta o risco de ela ser chamada para debater temas do cotidiano e se tornar mais parecida com os outros políticos.”
Em relação ao “mito” criado ao redor da candidata, o pesquisador ressaltou que “o maior risco é a mudança contínua de opinião porque o eleitorado pode deixar de vê-la como idealista”. “Eles não querem alguém que mude de opinião conforme o vento”.
Segurança
No Rio, a segurança pública é um dos principais temas em debate. Os dois principais candidatos ao governo do Estado, Anthony Garotinho (PR) e Luiz Fernando Pezão (PMDB), possuem visões distintas sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que interferem diretamente na vida dos moradores de favela.
O primeiro promete criar os Batalhões de Defesa Social, que reuniriam serviços e programas sociais no mesmo ambiente. Já Pezão aposta no reforço da atual política de segurança para a garantia de melhorias sociais nas favelas.
“A UPP é aprovada pela maior parte da população, inclusive por quem não mora na favela, mas não quer dizer que as pessoas estejam satisfeitas com o formato atual. O que a população quer está mais ligado ao próximo passo, à ‘UPP 2.0’, do que à extinção do projeto”, disse Meirelles.