Lerner: agora, a União Internacional
dos Arquitetos.

A campanha eleitoral deste ano e o resultado das urnas determinaram o fim do ciclo político do governador Jaime Lerner (PFL) e expuseram de forma inequívoca a desintegração do seu núcleo básico de poder.

O governador e seus dois herdeiros políticos, o prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi, e o deputado federal Rafael Greca, têm projetos individuais e distintos, que podem interferir nos destinos do PFL do Paraná, que se reúne amanhã em Curitiba para fazer um balanço das eleições deste ano. O partido fica fora do governo e suas principais lideranças não comungam mais dos mesmos objetivos.

O governador encerra seu mandato no dia 31 de dezembro sem nenhuma perspectiva aparente de se manter no cenário político-partidário. Ele não fez seu sucessor e também não conseguiu ver seu candidato à Presidência da República, o senador José Serra (PSDB), sair vitorioso das urnas. A eleição de Serra era o único cenário político que interessava a Lerner após deixar o governo. O pefelista esperava integrar a equipe do tucano.

Desfeita essa possibilidade, o governador já sacramentou sua saída de cena da política e deve se dedicar integralmente à sua profissão original. Além de presidir a União Internacional dos Arquitetos, Lerner também planeja reativar em Curitiba o instituto que leva seu nome. Um convite de trabalho em um organismo internacional seria bem-vindo, mas ainda não chegou para Lerner.

Ruptura

Com o distanciamento de Lerner, o prefeito Cassio Taniguchi e o deputado federal Rafael Greca vão assumir oficialmente a ruptura, que começou no campo pessoal e evoluiu para o terreno político. Uma cisão que teve início na primeira eleição de Taniguchi, em 1996, quando ruídos de comunicação entre os dois evoluíram para divergências mais consistentes que levaram o prefeito a suspender programas e abandonar obras de Greca na Prefeitura.

Os dois estão traçando suas estratégias para o futuro. Apesar de derrotado na sua tentativa de concorrer ao governo no PFL, Greca sobreviveu. Foi eleito deputado estadual – embora sua votação tenha ficado abaixo das expectativas – e apoiou o vencedor das eleições para o governo, o senador Roberto Requião (PMDB). Ganhou força para trabalhar no seu projeto de disputar a Prefeitura de Curitiba, em 2004. Sua meta agora é fazer um eficiente e marcante mandato na Assembléia Legislativa para alavancar seu projeto.

Já Taniguchi não teve a mesma sorte. Inviabilizado na disputa pela indicação do candidato ao governo do PFL, o prefeito acumula duas derrotas na eleição deste ano: perdeu o primeiro turno para o governo com seu vice, Beto Richa (PSDB), e no segundo turno, foi mal sucedido também ao aderir à campanha do senador Alvaro Dias (PDT).

Taniguchi vai tentar se rearticular com um novo grupo. Dele fazem parte o vice-presidente estadual do PFL, deputado federal reeleito Abelardo Lupion, o candidato derrotado ao Senado e deputado federal Luciano Pizzatto, e o presidente da Câmara Municipal de Curitiba, João Cláudio Derosso. Taniguchi vai se empenhar em fazer de Pizzatto seu sucessor na Prefeitura, como forma de ganhar uma sobrevida até 2006, quando poderá tentar uma candidatura ao governo do Estado.

“Caixa 2” volta à pauta

Fabiane Prohmann

A partir de janeiro de 2003 os vereadores de oposição prometem retomar o assunto caixa 2, onde o prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL) é acusado de ter utilizado um caixa paralelo na campanha à reeleição de 2000. Desta vez eles contarão com o apoio do novo governador, Roberto Requião (PMDB) para que as investigações sejam concluídas. Embora o atual governo não tenha atrapalhado o andamento do processo, os vereadores acreditam que com o apoio do governador eleito haverá mais agilidade ao caso.

O líder do PMDB na Câmara Municipal, vereador Paulo Salamuni, acredita que muita coisa irá mudar a partir da posse. “Comparo o que aconteceu no Brasil e no Paraná ao efeito de uma bomba atômica. Com a presença do Requião no governo muda o eixo de poder no Estado, e isso é tão forte que atinge tudo”, opina. Com as alianças feitas para o segundo turno ao redor do nome de Requião, o bloco de oposição ao prefeito ficou maior – além dos quatro vereadores do PMDB e seis do PT, agora há ainda o apoio de vereadores que estiveram fazendo campanha para Requião no segundo turno, entre eles Arlete Caramês (PPS), Fábio Camargo (PSC), Ney Leprevost (PSDB) e Antônio Bueno (PSL).

“Há também a possibilidade os partidos aliados ganharem a presidência da Mesa, e com isso ficaremos muito mais fortes”, explica Salamuni. Com isso, o vereador acredita que a cobrança sobre as investigações do caixa 2 devem aumentar. “O caso tem que andar. Tem que continuar o processo. Foi o Requião quem apresentou as denúncias, e tenho certeza de que ele vai querer ver a conclusão do caso.”

Quanto à tentativa de instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Caixa Paralelo, o vereador afirma que está não será uma prioridade. “Queremos resultados da justiça. O prefeito agora está sem seu padrinho, brigado com o Ministério Público, e sua situação se complica”, afirma.

Para o vereador petista André Passos, as investigações devem prosseguir a partir da próxima semana. “Independentemente do novo governador não deixamos em nenhum momento de investigar, e vamos continuar pressionando a Polícia Federal e a Justiça Eleitoral. Essa questão ainda não está esclarecida, e vamos investigar até o fim.”

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