A eleição mais disputada desde a redemocratização provocou uma montanha-russa no mercado financeiro, com as cotações da Bolsa e do dólar oscilando a cada mudança de cenário sinalizado pelas pesquisas. Foi a primeira corrida presidencial que o mercado se viu forçado a mudar de candidato, após o nome preferido pelos investidores, Geraldo Alckmin (PSDB), mostrar dificuldade de deslanchar nas pesquisas de intenção de voto. Com isso, Jair Bolsonaro (PSL) passou a ser a aposta das mesas das corretoras e bancos de investimento, e seu crescimento provocou nova agitação esta semana no mercado financeiro.

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A campanha começou oficialmente em 15 de agosto e o mercado financeiro estava animado com a perspectiva de Alckmin subir nas pesquisas após o início do horário eleitoral no rádio e na televisão. O tucano havia ganhado em julho apoio dos partidos do Centrão, o que foi recebido com alta da Bolsa e queda do dólar.

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O ex-governador, porém, mostrou dificuldade em decolar. Na primeira pesquisa do Ibope após o início da campanha, em dia 20 de agosto, Alckmin tinha apenas 7% no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No dia seguinte, o dólar superou a barreira dos R$ 4 pela primeira vez em dois anos e meio, fechando em R$ 4,04, e o Ibovespa caiu abaixo de 75 mil pontos e terminou o pregão em queda de 1,5%.

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No começo de setembro, outro momento de estresse foi o crescimento de Ciro Gomes (PDT), considerado o menos pró-mercado dos competitivos presidenciáveis. Ao mesmo tempo, Alckmin seguiu sem avançar, mesmo após o início do horário eleitoral. No dia 5, o pedetista foi o único que cresceu, de 9% para 12%, e se manteve em segundo lugar, tecnicamente empatado com Marina Silva (Rede), que tinha 12%, e Alckmin, que variou dentro da margem de erro, para 9%.

O avanço de Ciro e a estagnação do tucano, no entanto, acabaram sendo ofuscados pela facada que Bolsonaro levaria no dia seguinte à divulgação da pesquisa. A avaliação era que o incidente enfraqueceria os candidatos de esquerda e o mercado reagiu positivamente. Em 12 de setembro, já com a entrada de Fernando Haddad (PT) no jogo, os ativos financeiros refletiram o bom humor dos investidores, uma vez que Bolsonaro, àquela altura já preferido do mercado, foi o único que avançou além da margem de erro, de 22% para 26%, e Haddad mostrou pouco fôlego em seu primeiro teste como candidato oficial, oscilando de 6% para 8%.

Na semana seguinte, porém, o petista avançou 11 pontos e provocou nova onda de nervosismo. Além disso, levantamento divulgado no dia 25 mostraria pela primeira vez Haddad vencendo Bolsonaro em simulação de segundo turno.

O último movimento foi nesta semana, quando o Ibope mostrou alta de Bolsonaro, o que alimentou a visão de que ele poderia vencer no primeiro turno. O Ibovespa superou os 85 mil pontos e o dólar chegou a cair para R$ 3,84, ajudado por recursos de curto prazo do investidor estrangeiro, à procura de retorno na Bolsa. Ontem, contudo, a mais recente pesquisa do Ibope conteve o otimismo ao reforçar a probabilidade de haver um segundo turno.

‘Nevoeiro’

Para a analista You-Na Park, do banco alemão Commerzbank, o ‘nevoeiro’ que encobria o cenário eleitoral brasileiro só começou a se dissipar no final de setembro. “A alta incerteza sobre o resultado da eleição se reduziu ao menos até a percepção de que o segundo turno deve ser disputado por Haddad e Bolsonaro”, disse.

O elevado desemprego, a economia enfraquecida, o país polarizado e o crescimento da insatisfação com políticos tradicionais contribuem um quadro imprevisível, ressaltam estrategistas do banco francês Crédit Agricole, em relatório. “A eleição brasileira é provavelmente a mais incerta na história democrática do país”, afirmam.

A consultoria inglesa Capital Economics avalia que a melhora dos preços dos ativos esta semana pode não durar muito tempo. Primeiro porque o mais provável é que haja um segundo turno e que seja muito disputado. Em segundo lugar, porque mesmo se Bolsonaro vencer será grande o desafio para fazer as reformas, algumas delas urgentes, como a da Previdência.

Agitação atípica

As eleições deste ano geraram uma movimentação atípica no mercado. Levantamento feito pelo Broadcast com a semana pré-primeiro turno nos últimos 20 anos mostra que o mercado, sobretudo o câmbio, costuma ter pouca variação nesse período. Em grande parte porque, a essa altura, o cenário para a composição do segundo turno já está precificado. Neste quesito, as eleições deste ano se parecem apenas com a de 2002, até então considerada um “ponto fora da curva”.

No acumulado da semana (sexta frente sexta), o dólar acumulou queda de 4,81% frente ao real e saiu do patamar dos R$ 4 para R$ 3,8560. Em 2014 o dólar subiu 1,60% nesse mesmo período. Em 2010, caiu 1,87%. E em 2006, teve queda de 1,63%. Em 98, o câmbio não flutuava.

“Assim como em 2002, essa eleição tem um grande grau de incerteza, tanto em relação a quem vai ganhar no segundo turno como em relação à política econômica de 2019”, diz o economista-chefe da GO Associados, Eduardo Velho.

Ele lembra que, em 2002, Lula agiu rápido ao tornar pública uma carta aos brasileiros na qual explicitou ao mercado que seu governo iria seguir a linha da responsabilidade fiscal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.