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Eleição mais pobre, cidade mais limpa

Se eleição é mesmo a festa da democracia, essa, por enquanto, anda meio esvaziada. Quem estava acostumado com campanhas barulhentas, cheias de bandeirinhas, santinhos e agitação em ruas e praças, já notou a diferença. A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo visitou alguns endereços que, nas eleições de 2012, eram repletos de “vida eleitoral” – mas que hoje não guardam vestígios de nenhuma disputa. A nova legislação e a falta de recursos e de interesse são as explicações mais plausíveis para esse fenômeno.

Em 2012, o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, estava enfeitado com bandeirinhas do então candidato do PMDB Gabriel Chalita. Não era difícil encontrar militantes panfletando ou pisar em algum santinho. Hoje, só moradores de rua, eventuais turistas e testemunhas de Jeová ocupam a área. “Na época (2012), ganhei um dinheiro distribuindo papelzinho de vereador. Dessa vez, não apareceu ninguém oferecendo nada”, afirmou o morador de rua Antônio Jesus, de 45 anos.

Outra praça que respirava eleição há 4 anos era a José Boemer Roschel, na Cidade Dutra, zona sul. Nessa praça concentrava-se a propaganda política de diversos vereadores que mantinham (e ainda mantêm) escritórios políticos na região, como Goulart, Milton Leite e Tatto. Ao circular pelo local, o cidadão era afogado por bandeiras e cavaletes de Haddad, Russomanno e Serra (candidatos na época) e muito material dos já citados vereadores. “Nem parece que vai ter eleição neste ano, né? Moro aqui perto e vivia reclamando da bagunça. Dessa vez, quase não se encontra nada. De vez em quando, aparece um gato pingado com uma bandeira”, comenta a dona de casa Fátima Loureço Dias, 52 anos.

Avenidas como a Teotônio Vilela, na zona sul, e a Guilherme Cotching, na zona norte, tinham suas calçadas e canteiros centrais totalmente dominados por cavaletes (com a cara de candidatos sorridentes). Os pedestres sofriam e a paisagem urbana era totalmente comprometida. E hoje? “Se você não me falasse dos cavaletes, eu nem ia lembrar que eles existiram. Era impossível andar nas calçadas por causa deles”, lembrou o comerciante da Avenida Guilherme Cotching Mauro Térsio Silva, 41 anos.

Regras

Não foi por consciência urbanística que nossos candidatos diminuíram suas ações de rua. A lei eleitoral sofreu alterações significativas. Foi vedada pichação, inscrição a tinta, colocação de placas, faixas, estandartes, cavaletes, bonecos e peças afins em locais em que o uso dependa de permissão do poder público, ou que a ele pertençam. Também foi proibido ao candidato ou comitê distribuir na campanha brindes, camisetas, chaveiros, bonés e etc. Soma-se a tudo isso o mais importante: o dinheiro diminuiu. As doações de pessoas jurídicas foram proibidas e os recursos para gastar com propaganda ficaram mais modestos.

Em 2012, os dois candidatos que hoje também estão na disputa (Russomanno e Haddad) fizeram campanhas onerosas. Russomanno, segundo dados do TSE, gastou R$ 4,4 milhões (valores da época); e Haddad, R$ 64, 2 milhões (também valores da época). No caso de Haddad, os gastos com gráfica ultrapassavam, em 2012, os R$ 2 milhões. Hoje, a campanha declara ter gasto menos da metade disso, R$ 933.392 (gastos por materiais impressos). Já Russomanno declara ter gasto nesta campanha com material impresso R$ 169.800. Em 2012, os gastos com gráfica e produtos de comunicação visual foram praticamente o dobro dos declarados nesta eleição.

O coordenador do curso de Ciência Política da FESPSP, Humberto Dantas, diz que uma eleição “quase secreta” pode ter um efeito positivo. “Uma eleição assim vai obrigar o eleitor a pesquisar mais, prestar mais atenção e tentar se informar melhor”, afirma. Para o também cientista político Cláudio Couto, professor da FGV, a frieza da eleição municipal tem suas raízes na superexposição das questões nacionais, como impeachment, Lava Jato e até Olimpíada. “A atenção está diluída. Talvez o quadro mude na última semana. Esta é uma eleição diferente”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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