Antes que a irritação do prefeito Eduardo Paes com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, se transformasse em mais um componente da crise entre o PMDB e o PT, o chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, foi escalado para serenar os ânimos. Hoje, Paes disse que recebeu “reações gentis do Palácio do Planalto”, mas voltou a classificar de “irresponsável” a divulgação de uma pesquisa sobre desempenho das cidades no Sistema Único de Saúde (SUS).
Na quinta-feira passada, o prefeito peemedebista fez duras críticas ao petista Padilha pela divulgação da pesquisa que apontava o Rio como a capital com pior avaliação no SUS. O prefeito se revoltou com o fato de o levantamento reunir dados de 2008 a 2010 e não contemplar 2011, quando, segundo Paes, houve um salto de qualidade na saúde pública carioca. Embora tenha apontado avanços como a ampliação do programa saúde da família e aumento de recursos investidos, Paes reconheceu que a saúde na cidade ainda é “uma tragédia”.
Candidato à reeleição, o prefeito insistiu que a questão não é política, mas técnica. “Não quero solidariedade política, é uma besteira. Eu assumo minhas responsabilidades”, afirmou Paes em entrevista à rádio Band News. Ele lembrou que o próprio Padilha ressalvou que, se fossem levados em conta os dados de 2011, o Rio teria um desempenho acima da média. “Se o ministro diz que o Rio avançou, por que não divulgou os números? Avaliar o passado é conversa para boi dormir”, reclamou.
Na sexta-feira, o petista Gilberto Carvalho conversou com Eduardo Paes no Rio. “Tive reações gentis do Palácio do Planalto. O ministro Gilberto Carvalho me disse: ‘Prefeito, a gente sabe que a cidade que mais avança em saúde é o Rio. Ninguém gostou da maneira como os números foram divulgados'”, contou Paes na entrevista à Band. Futuro candidato a vice de Paes, o vereador Adilson Pires, do PT, afirmou ter ficado “constrangido” com a atitude de Padilha, um companheiro de partido. A sete meses da eleição, Pires reconhece que a pesquisa será usada pelos adversários. “Na campanha deste ano a saúde será um tema muito abordado, (os adversários) vão dizer que a pesquisa foi do próprio governo, que é aliado. Mas vamos fazer deste limão limonada e mostrar os avanços que tivemos na saúde com o prefeito Eduardo Paes”, declarou o vereador petista.
Adilson Pires disse que a tendência é “assentar a poeira”, mas deu razão ao prefeito. “Não é possível que o ministro não soubesse que haveria uma repercussão negativa. Não é uma questão de sermos aliados no plano federal. É uma questão técnica, ele podia ter atualizado os números”, disse o futuro companheiro de chapa de Eduardo Paes. A reação exacerbada do prefeito e os ataques a Padilha, a quem acusou de não ter feito nada em favor do Rio desde que assumiu a Saúde, no governo Dilma, acontecem no momento em que, em Brasília, PMDB e PT vivem mais uma queda de braço por espaço no governo. Parlamentares peemedebistas revoltados divulgaram uma nota com ataques diretos ao PT, na semana passada.
Assim como o governador Sérgio Cabral (PMDB), Paes não costuma se envolver nos assuntos partidários e tem boa relação com a presidente Dilma Rousseff, mas, ainda assim, Gilberto Carvalho aproveitou a viagem ao Rio na sexta-feira para procurar acalmar o prefeito. Paes repetiu que não quer criar um conflito político. Mas não perdoou Padilha. Hoje, ainda reclamava: “(o ministro) joga no ar os números e diz que não são para julgar ninguém. Como não?” O prefeito negou preocupação com a eleição. “As pessoas vão avaliar lá em outubro. Não estou preocupado com isso. Quero ser cobrado pelos meus erros, mas também quero justiça”, afirmou.