Ao final da semana de volta aos trabalhos do Legislativo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), autorizou a criação de uma CPI para investigar denúncias de fraudes contra a Receita Federal de bancos e grandes empresas, mediante supostos pagamentos de propinas para manipular os resultados dos julgamentos pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) de casos de sonegação fiscal.

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Partidos já podem indicar membros para integrar a comissão parlamentar de inquérito. No entanto, ela ainda não tem previsão para começar a funcionar, já que Cunha condicionou o início dos trabalhos de todas as comissões à resposta do Supremo Tribunal Federal (STF) a questionamentos apresentados no início desta semana. A expectativa é que, após o carnaval, Cunha reveja sua posição e permita o início dos trabalhos dos colegiados.

A criação da CPI do Carf é a primeira ofensiva clara de Cunha contra o governo neste ano. O autor do requerimento de criação da CPI, João Carlos Bacelar (PR-BA), deve ficar com a relatoria da comissão.

A prioridade da CPI, segundo Bacelar, é o sistema financeiro e o setor automotivo. Ele quer convocar executivos de bancos e montadoras para prestar depoimento à comissão. O envolvimento de políticos, no entanto, deve ficar de fora do alvo da CPI. “Temos que ir primeiro em cima dos bancos, que deram origem a essa confusão toda. Depois, sistema automotivo. Acho que não temos que polemizar a política, de Lula, de Dilma”, disse o autor do requerimento.

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No ano passado, o jornal O Estado de S. Paulo revelou suspeitas de compra de Medidas Provisórias (MPs) e pagamento de propina a integrantes do Carf. De acordo com investigações da Operação Zelotes, MPs teriam sido editadas durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva para favorecer montadoras de veículos.

Como a compra de MPs foi revelada apenas meses depois da apresentação do requerimento, o tema deve ficar de fora dos trabalhos da comissão, assim como ocorreu na CPI do Carf realizada no ano passado no Senado.

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A CPI do Carf no Senado terminou em dezembro de 2015 recomendando o indiciamento de 28 pessoas, a maioria ex-conselheiros do Carf, lobistas e servidores públicos. Da base aliada ao governo, a relatora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) não pediu o indiciamento de nenhum político nem de suspeitos de participar da “compra” de medidas provisórias em 2009 e 2010 para favorecer o setor automotivo, entre eles o ex-ministro Gilberto Carvalho e Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula.

O presidente da CPI no Senado, Ataídes Oliveira (PSDB-TO), pediu ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), suplente do colegiado, que apresentasse um relatório paralelo pedindo o indiciamento de pessoas envolvidas na compra das MPs. O voto em separado não chegou a ser analisado pelos senadores.

Mesmo assim, a oposição tentará usar a nova CPI do Carf como novo front de ataque ao governo. O novo líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), disse que o esquema investigado pela Operação Zelotes indica que houve venda de MPs e que, segundo as apurações policiais, está comprovado o envolvimento da Casa Civil do Palácio do Planalto. “É quase impossível acreditar que o presidente da República não soubesse o que estava acontecendo do seu lado, com o principal ministro, já que as Medidas Provisórias chegam sempre na Casa Civil e, obviamente, o presidente da República não assina sem ler”, afirmou.

Ainda na intenção de desgastar o governo, a oposição coleta assinaturas para criar a CPI da Bancoop (Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários), visando também o ex-presidente Lula.

O governo já prepara a retaliação. Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira, 4, deputados petistas passarão a coletar assinaturas, depois do carnaval, para criar as CPIs da máfia da merenda escolar, com foco no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e da Mineração, com foco no senador e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB).

A primeira pretende investigar denúncias de superfaturamento e pagamento de propina em contratos de merenda escolar em São Paulo, que envolvem secretários do governo tucano e o presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB).

Já a outra CPI pretende se debruçar sobre apuração do Ministério Público de Minas Gerais que investiga como a mineradora Samarco conseguiu autorização do governo estadual para a construção da barragem de Fundão, que rompeu em novembro do ano passado. Em 2007, quando o Estado era governado por Aécio, a licença prévia para a obra em Mariana foi concedida sem que a empresa apresentasse informações consideradas essenciais para a realização do empreendimento.