O governador de Pernambuco Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, questionou a aliança PT-PMDB, que deve ser mantida na disputa presidencial de 2014, em entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal sergipano Cinform. “Há um grande risco para quem monta coalização para governar quando a aliança política não corresponde à aliança social feita para ganhar a eleição”, disse ele. “Acho que a expressão que o PMDB começa a tomar nessa aliança é muito maior do que o que o PMDB representa na sociedade brasileira e isso, um dia, é resolvido – ou pelos políticos ou pelo povo”.
“A gente já viu, em outros momentos, alianças políticas que foram feitas em determinadas conjunturas e que tentaram impor à sociedade a sua manutenção e o povo rapidamente não consentiu e a desmontou”, afirmou o governador, ao lembrar que em 1986 o PMDB elegeu governadores de todos os demais Estados do Brasil, exceto em Sergipe, onde o PFL venceu a eleição com Antônio Carlos Valadares. “Mas, três anos depois, aquela mesma aliança de forças que havia participado disso tudo foi varrida das urnas, e dois candidatos fora do processo, que eram àquela altura o Lula e o Collor, de 1989, foram exatamente a expressão da sociedade brasileira”.
Campos, que tem buscado se fortalecer nacionalmente como uma opção em uma futura disputa presidencial, evitou, no entanto, comentar a sucessão. Repetiu, na entrevista, – concedida semana passada, quando foi homenageado em Aracaju pelo Instituto Luciano Barreto Junior (ILBJ) – que ainda é cedo para se discutir o assunto. E reafirmou seu apoio à presidente Dilma Rousseff.
Indagado sobre o que teria a mostrar ao Brasil, mesmo que em 2018, destacou que “Pernambuco, como uma fração do Nordeste, e esta região como um todo, têm sido muito importantes para a travessia do Brasil”. Segundo ele, esse último ciclo de expansão econômica que se deu só aconteceu pela vontade política dos nordestinos, que garantiram as vitórias do projeto político que fez o Brasil retomar o crescimento de maneira expressiva.
“Só suportamos a crise econômica de 2008 para cá porque o Nordeste foi a parte do Brasil que mais cresceu. E o Nordeste revela, hoje, talentosos quadros políticos que têm feito administrações excelentes, dos mais diversos partidos, em Governos de Estado ou de Municípios. De modo que o Nordeste, que era visto pelo Sudeste como uma parte atrasada do Brasil, de práticas patrimonialistas, coronelescas, e coisas desse tipo, hoje já é claramente para o País não um problema, como esses alguns achavam, mas uma solução. Se somos a solução na economia, poderemos, sim, também ser na política – na medida em que possamos entender que é a hora de renovar a política, não com discursos, com práticas que transformem a política em algo que a sociedade respeita”.
PSB sabe fazer
“Não é por teses regionalistas que nós devemos começar o debate, mas nenhum projeto nacional pode desconhecer as desigualdades que ainda marcam a cena regional brasileira, sob pena de ele cair em descrédito absoluto”. Elas são gritantes, frisou, ao destacar que mais da metade da pobreza do Brasil ainda está no Nordeste.
Considerou fundamental que, para governar o País, se consiga enxergar esse Brasil profundo. “Ninguém governará mais o Brasil se não vier com olhar, sentimentos, marcas e compromissos desse Brasil profundo – porque esse Brasil profundo não aguentará mais governos de punhos de rendas, governos dos grandes salões de Brasília”.
À indagação do Cinform se o PSB tem planejamento para deixar de ser coadjuvante na cena política nacional, o presidente da legenda afirmou que o seu partido vem crescendo, eleição a eleição, “porque sabe fazer”.