Tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT), o ex-presidente do PT de São Paulo Edinho Silva afirmou, em entrevista exclusiva ao Broadcast, que quem conduz a política econômica brasileira, é própria presidente. Com essa avaliação, ele minimizou as divergências internas sobre a condução da política econômica e sobre o controle da inflação, explicitadas em opiniões recentes dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda). “Não tem duas cabeças no governo. Só tem uma cabeça, que é a da presidente Dilma”, disse, sobre economia.

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Deputado estadual, Edinho abriu mão de uma eleição à Câmara dos Deputados em 2014 para integrar a equipe de campanha de Dilma e garante que, se pudesse escolher, a tesouraria seria a última função a assumir. Em meio a um cenário de recursos cada vez mais escassos, ele avaliou que a rejeição à presidente pelo empresariado é fruto de “um clima de pessimismo que não tem lastro na realidade”. No entanto, admite que o PT e o governo tiveram dificuldade de fazer um “contra-argumento” ao pessimismo. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Como encarou a missão de ser tesoureiro da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff?

Se fosse para eu escolher qualquer tarefa na coordenação de campanha, eu garanto que essa seria a última. Eu penso que é uma tarefa muito difícil pelo modelo eleitoral brasileiro. Você tem de tomar todos os cuidados possíveis, porque para toda doação você tem de efetivamente enxergar quem é o doador, até a origem da empresa. Por isso, sou a favor do financiamento público de campanha. Ser tesoureiro é uma coisa muito espinhosa. Mas é evidente que é uma atribuição onde o risco de armadilhas é imenso.

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Você foi presidente estadual do PT e duas vezes prefeito de Araraquara e sabe, portanto, sabe como é lidar com orçamento restrito. Como será na campanha? O que deve ser priorizado?

Tenho defendido – e o presidente Rui Falcão e os demais membros do grupo que começa a discutir a campanha, concordam – que temos que fazer dessa eleição um processo de iniciar a mudança na cultura eleitoral. Tenho defendido que a gente inicie uma campanha de doação de pessoa física. Claro que não vamos conseguir resultados exitosos. Pelo menos a gente inicia um debate que inverte a lógica e a doação de pessoa física começa a ter importância, porque é uma opção política e exige que faça o debate político.

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Como buscar doações de empresas em um cenário no qual vários setores da economia e da indústria fazem críticas abertas à presidente Dilma?

Eu penso que tem um clima de pessimismo do empresariado que não tem lastro na realidade. Não nego, é evidente que alguns setores são afetados por questões econômicas conjunturais, não um problema estruturante. O Brasil está entre os países que o PIB (Produto Interno Bruto) mais cresceu diante da crise econômica internacional. A Alemanha vibra com um crescimento de 0,5%. Os Estados Unidos começam a sair do negativo e a economia americana entra em euforia. O Brasil jamais deixou de crescer, mesmo na crise. Eu penso que a gente tem de fazer um debate com o empresariado. Eu não vejo problemas de relacionamento efetivo quando apresentamos o debate com o empresariado do nosso projeto e não acredito que esse mau humor vá perdurar.

Mas esse mau humor já dura alguns anos.

Tem setores, repito, que sofrem com questões conjunturais da economia. Agora, os números já mostram a estabilidade efetiva e o crescimento da economia brasileira e isso desmonta esse discurso específico.

Por que quando a presidente Dilma recuou nas pesquisas, as bolsas, puxadas principalmente pelas estatais, subiram, e o dólar caiu, num claro reflexo do descontentamento do mercado com a presidente?

Eu não acredito nisso. A questão da bolsa você tem de olhar lá fora, não tem nada a ver com a pesquisa. Absolutamente nada. É um ledo engano.

O senador Aécio Neves (PSDB), por exemplo, não seria um candidato mais alinhado ao mercado do que a presidente?

É só nós debatermos que projeto o Aécio representa. Onde é que o empresariado ganhou mais dinheiro? Onde é que a indústria cresceu mais? Onde é que o mercado ficou mais aquecido?

Mas há a argumentação que o crescimento ocorreu em uma época de euforia mundial, a partir do começo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Não é verdade. O Brasil enfrentou a crise econômica internacional e quando o mundo teve PIB negativo o Brasil não deixou de crescer. Nunca deixamos de gerar emprego, de fomentar o crédito.

Mas vocês vão conseguir convencer os empresários?

Existiu uma indução de pessimismo e nós tivemos dificuldade de fazer o contra-argumento. Isso eu reconheço. Quando fomos para o debate isso se diluiu e vai se diluir cada vez mais, porque não tem lastro na vida real das pessoas.

O presidente do PT nacional, Rui Falcão, que também será um dos coordenadores de campanha, pregou, recentemente, um maior controle do mercado financeiro e do capital. Você compartilha dessa opinião?

Eu estava com o Rui no dia dessa polêmica e acho que ele foi mal interpretado. Ele quis fazer uma comparação com o que ocorreu na crise econômica internacional, quando o governo americano criou regras para o capital volátil. Ele quis dar um exemplo de que quando há um capital volátil, num momento especulativo, até a economia americana colocou regra.

Mas você concorda com controle de capital?

Mas que controle de capital? O Brasil hoje respeita contratos, as regras. Agora, quando houve instabilidade no Leste Europeu o Brasil drenou capitais, porque aqui tem democracia e regras consolidadas.

Mas o que veio para cá foi capital especulativo.

Veio porque confiam nas regras e na economia brasileira. Fizeram operações, pagaram tributos e contribuíram para economia brasileira. Essas são as regras e sabem que o Brasil é uma economia forte.

Recentemente houve uma polêmica entre os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o ministro Guido Mantega (Fazenda). Mercadante defendeu que o governo usasse os preços controlados para mitigar o impacto desses reajustes na inflação e Mantega negou essas ações. Quem está certo?

O governo tem uma cabeça só, que é a presidente Dilma. E é uma economista brilhante. O Guido faz o que a presidente Dilma determina, o Mercadante faz o que a presidente Dilma determina. Ela não é uma leiga em economia, conhece profundamente.

Ela é a ministra da economia?

O ministro da Economia é o Guido Mantega, que é um excepcional ministro e nos conduziu na pior crise econômica, que foi maior que a de 1929. E o Mercadante, além de economista, é um quadro político. Agora, quem conduz a política econômica brasileira, quem diz qual é o projeto, que vem desde o governo do presidente Lula, é a presidente Dilma. Então não tem duas cabeças no governo. Só tem uma cabeça que é a da presidente Dilma.

Mas com qual dos dois você concorda?

O Mercadante quis expressar o seguinte: se você tem margem nos preços públicos para retardar reajustes, é natural…

Mas existe margem em gasolina, por exemplo?

Não é só gasolina. Todas as tarifas públicas, por serem públicas, você tem um instrumental. Se eu sou um empresário e tenho condições de reter, na minha planilha, todo aumento de custo que tive para poder ser mais competitivo, por que não faria? Por que vou reajustar preço, se no global eu consigo ser competitivo?

Mas é ser competitivo neste ano, um ano político…

Não é isso. O ano que vem vai ser um ano que não vai ser político e vamos ver que toda essa celeuma que está criada em torno dos preços públicos não vai se configurar.

Esse represamento de preços não vai estourar em 2015?

Mas que represamento? A energia elétrica subiu porque não tem margem e graças aos governos Lula e Dilma nós diversificamos a matriz energética.

Qual adversário que dará mais trabalho: os eternos inimigos Aécio Neves e PSDB, ou os ex-aliados e ex-ministros Eduardo Campos e Marina Silva?

Não temos que escolher adversários. Eu até escrevi um texto no qual digo que Eduardo Campos e Marina não eram uma aliança, mas uma junção, porque eram projetos distintos com muitas contradições. Ali a junção foi pragmática. Marina não conseguiu o registro do partido e recebeu o convite para ser abrigada em um outro projeto.

Mas alianças como as feitas com o (ex-vice-presidente) José Alencar, em 2002 e com o PMDB, em 2010, não foram pragmáticas?

É claro que é uma coalizão que tem o pragmatismo. Mas as concepções de Brasil do Alencar e do Lula eram muito próximas. O PMDB vem de uma tradição democrática e desenvolvimentista e foi um processo o apoio. O PMDB fez parte de uma coalizão e não foi um cavalo-de-pau. As contradições entre a Marina e o Eduardo são gritantes.

E quem dos dois deu o cavalo-de-pau nessa história?

É evidente que a Marina fez uma inflexão. Eu tenho muita simpatia pelo Eduardo Campos e ele sabe disso. Com todo respeito do mundo, acho que ele cometeu um erro político grandioso. Ele ajudou a construir essa coalizão que muda a vida do povo brasileiro e é fruto desse projeto. No momento que ele rompe com essa coalizão, cometeu um grande erro político. Ele teria mais condições de crescer e fortalecer como uma grande liderança nacional se continuasse conosco.

Você disse não acreditar nas previsões de que 2015 será um ano difícil em relação à economia. Como será 2015 então?

Se a economia internacional continuar respondendo, como você pode projetar o caos econômico no Brasil? Só nos preços públicos?

Se você aumentar a gasolina com o porcentual que está represado, pode gerar inflação de dois dígitos que será indexada aos outros reajustes.

Onde isso gera inflação de dois dígitos? Se a economia cresce, você aumenta a produtividade, o consumo de escala cresce, os preços caem. Temos muita margem de aumento de produção. Temos alguns setores da economia que precisam de intervenção pontual, intensificar a política de substituição de importados. Mas existe uma tentativa de caos em relação aos preços públicos. Não existe o mercado perfeito. Ele é imperfeito.

Mas pode trazer consequências boas e ruins esse mercado imperfeito.

Por isso existe Estado. Onde se acreditou que o mercado era perfeito, houve o caos e a crise internacional. Todos os indicadores para o ano que vem são favoráveis para economia e não pode você dizer que os preços públicos vão criar instabilidade na economia brasileira. Só aqueles que querem fomentar o medo e o caos podem falar isso. As perspectivas para o ano que vem são bem mais favoráveis que 2014, que já são boas.