A doação de imóveis para familiares por parte da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e do ex-diretor da Área Internacional da estatal Nestor Cerveró pode ter sido uma tentativa de burla às investigações do Tribunal de Contas da União (TCU), mas é preciso verificar se a ação foi “planificada”, disse nesta quinta-feira o presidente do órgão, João Augusto Nardes.
Segundo o presidente do TCU, como o processo é “extremamente importante” e “tem de ter todas as nuances dissipadas”, foi pedida uma diligência para avaliar a transferência dos apartamentos, em regiões valorizadas do Rio de Janeiro e de Búzios, no litoral norte fluminense. “Essa diligência vai averiguar se houve realmente essa doação e se foi de forma planificada, para ver quais as consequências disso dentro do processo que está em andamento”, afirmou Nardes, após dar palestra no X Encontro de Controle Interno, no Rio.
Nesta quarta-feira, a sessão do TCU que decidiria sobre a inclusão de Graça no relatório sobre o caso da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), foi suspensa após a revelação das doações dos imóveis, em reportagem publicada no site do jornal “O Globo” ainda durante a tarde. Em julho, o TCU pediu o bloqueio dos antigos diretores da Petrobras à época das negociações envolvendo a compra da refinaria.
De acordo com Nardes, a decisão voltará à pauta do tribunal somente após a conclusão da diligência. “Se for necessário mais do que o prazo de uma semana, daremos mais prazo para que o relator coloque isso na pauta. Queremos a segurança das informações”, disse Nardes, completando que ainda se reuniria com o relator do caso, ministro José Jorge, para tratar do tema.
Ainda na quarta-feira, Jorge afirmou que a confirmação da doação proposital configuraria “tentativa de burla”. “Claro que isso nos preocupou. Se foi planificada essa atitude, coloca a situação dos envolvidos num comprometimento de buscar uma forma de não serem impactados pela decisão do tribunal”, afirmou Nardes.
O presidente do TCU justificou a cautela e minimizou as pressões sobre o órgão. “O momento político é muito sensível, por isso temos de ir muito devagar com o andor e evitar qualquer conclusão precipitada e avaliar da forma mais equilibrada possível para não prejudicar A, B ou C”, disse Nardes.
Sobre as pressões, Nardes disse que fazem parte do “jogo democrático”. “Já tive vários mandatos e sei que isso faz parte. O fato de o Adams (Luís Inácio Adams, advogado-geral da União) estar lá? Toda semana temos advogados distribuindo memoriais e fazendo pressão em cima do TCU e a gente tem de ter tranquilidade para administrar essas questões com equilíbrio”, completou.