Com a renúncia de Beto Richa (PSDB) para disputar o governo do Estado, Luciano Ducci (PSB) herdou a cadeira de prefeito de Curitiba e terá dois anos e nove meses para mostrar o seu jeito de administrar.
Médico, servidor municipal da saúde, o ex-deputado estadual e duas vezes vice-prefeito assumiu terça-feira o palácio 29 de Março jurando fidelidade a Beto e ao PSDB, independente do palanque que o tucano montar e de quem estiver do outro lado.
O Estado – Honrar os quase 800 mil votos recebidos, manter a aprovação da prefeitura e tentar repetir a popularidade de Beto Richa são seus principais desafios?
Luciano Ducci – Manter o alto índice de aprovação perante a população, para mim, é um grande desafio. E isso envolve o compromisso que eu e o Beto temos com a população de Curitiba. Quando participamos da reeleição, apresentamos um plano de governo, o registramos em cartório e o meu compromisso, a partir de agora, é cumprir, até o final da gestão, esse plano de governo.
LD – Eu penso em fazer bem esses dois anos e oito meses pela frente.. Trabalhar bastante, estar presente nos bairros, nas áreas de risco social, nas áreas onde a população carente precisa do prefeito, mudando a realidade dessas regiões. Daí o processo vai dar conta de tudo. Para mim sempre foi desse jeito.
OE – Médico, funcionário público municipal concursado, deputado estadual, vice-prefeito e, agora, prefeito. Qual o próximo passo político? A reeleição?
A candidatura será natural a partir do momento que tivermos respaldo popular de um trabalho bem realizado e que as pessoas aprovem o que se está fazendo. Sem forçação de barra.
OE – Qual a grande marca da gestão Beto Richa e que marca Ducci gostaria de deixar?
LD – A grande obra foi estar presente nos bairros, ouvindo a população, essa é a grande sacada da nossa administração. Claro que se for pensar em obra física, a Linha Verde representa grande transformação urbana, além das obras na área social, como 10 mil vagas em creches, redução da mortalidade infantil.
A gestão tem marcas boas, o prêmio ODM com o mãe curitibana, o prêmio ODM com redes de bibliotecas. Temos grandes marcas, não uma. Mas a principal ao longo desses 5 anos e meio foi a presença nos bairros, ouvindo a população, fazendo audiências públicas. Estivemos próximos da população, resolvendo problemas, as vezes, simples, e que causavam transtornos.
OE – Desse plano de governo, o que sobrou para tocar nesses quase três anos?
LD – Sobrou muita coisa. Agora no mês de março, demos ordem de serviço para 400 novas obras. Temos compromisso na área de educação das 10 mil vagas de creche. O hospital do idoso, o disque saúde, o Homem Curitibano, todos em fase de encaminhamento.
O trecho norte da Linha Verde, com financiamento em fase final de negociação. As obras da Copa, o empréstimo do BID pró-cidade, recurso importante para pavimentação asfáltica. A implantação do Tudo Aqui, para descentralizar os serviços da prefeitura. Tem bastante coisa.
OE – O que difere Ducci de Beto?
LD – Primeiro que fisicamente a gente não é parecido. Ele é boa pinta, bonitão. Mas cada um tem um jeito de trabalhar, de lidar com as pessoas, um perfil. O meu é de ser uma pessoa presente, de estar cuidando das pessoas, até por minha formação profissional, médico pediatra, gosto de criança, gosto de estar em contato com gestante, mulher grávida, criança no colo.
OE – Beto Richa, quando descobriu que seu salário era o mais alto entre todos os prefeitos do País, tentou reduzir via Câmara Municipal. Não conseguiu e, então, passou a doar parte de seu salário. O senhor vai fazer o mesmo?
LD – Ainda não pensei sobre isso, mas acho que o salário de prefeito é um salário legal, constitucional, então, não vejo, a princípio, nenhum motivo para agir dessa forma.
OE, – Deixar a prefeitura com o PSB, da base de Lula foi um dos argumentos usados por quem era contra à candidatura do Beto ao governo. Mas o senhor garantiu fidelidade aos tucanos e aval do diretório nacional. Como foi isso?
LD – Foi há seis anos. Nós estivemos em Brasília, com o dr. Miguel Arraes, ainda vivo e presidente nacional do partido e ele avalizou essa aliança, o que não foi diferente com o atual presidente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
E agora, deu garantias de que o PSB estará com o PSDB aqui no Paraná, sem problemas. Eu e o Beto fizemos uma aliança que já dura seis anos. Uma aliança PSB e PSDB, que muitos não imaginavam possível. Essa aliança se mantém firme até hoje.
Tanto que sempre tenho afirmado que PSB é 100% Beto Richa, antes mesmo de o PSDB definir seu candidato. Vamos trabalhar para Beto Richa ser eleito governador do Paraná. Essa aliança vai durar muito tempo.
OE – E como ficaria a situação do prefeito de Curitiba, caso Ciro Gomes (PSB) seja candidato a presidente?
LD – Todo mundo pergunta sobre essa eventual candidatura. Mas ele não é candidato ainda. No momento em que ele for, se for, o partido terá a maturidade para fazer o encaminhamento. O que está acordado com o PSB nacional é que o PSDB e o PSB vão estar juntos no Paraná.
O partido estará no palanque do Beto com quem quer que seja que esteja nesse palanque. Se o Ciro for candidato, o diretório estadual do partido que fará essa condução. Não cabe a mim, como prefeito de Curitiba fazer essa condução partidária estadual ou nacional.
OE – Então o senhor poderá subir no palanque do José Serra?
LD – O Beto vai estar no palanque dele, vai ter o palanque dele e, eventualmente, o Serra estará nesse palanque. Pode ser que com o Ducci junto. Sem dificuldade, pois me dou muito bem com o Serra, temos relação antiga e, quando ministro da Saúde, ele até me convidou para fazer parte de sua equipe.
Tanto que o Serra implantou o Mãe Paulistana, com base no Mãe Curitibana e sempre nos referencia nos projetos de saúde, esteve aqui para lançar o Mulher Curitibana conosco, eu não tenho dificuldade de estar junto com o Serra, pelo contrário, gosto muito de estar com ele
OE – Mesmo vice-prefeito de Beto Richa, o senhor apoiou Roberto Requião (PMDB) em 2006, enquanto Beto apoiou Osmar Dias (PDT). Como está sua relação com Requião e com o atual governador, Orlando Pessuti, adversário de Beto em outubro?
LD – Minha relação com Requião continua boa e minha relação com Pessuti também. Não acredito em nenhuma dificuldade nessa relação. Temos encaminhada a negociação do empréstimo do FDU, que deve se concretizar ainda este mês, garantindo obras importantes para Curitiba.
Acredito que não vai haver dificuldade com o Pessuti governador. Esse empréstimo foi cancelado pelo governador após a eleição de 2006 e agora estamos retomando.
Mas essa dificuldade nunca foi do Beto com o Requião. O Beto sempre esteve aberto ao diálogo, procurou o governador diversas vezes, mas, infelizmente por questões eleitorais ele rompeu a relação
OE – Apesar de ser uma das cidades mais ricas do Brasil, Curitiba foi apontada pela ONU, com uma das cinco piores em distribuição de renda. Por que essa disparidade entre ricos e pobres?
LD – Eu não conheço a metodologia da pesquisa, como foi feita e como se chegou a esse número, então não posso fazer uma avaliação. Mas acho estranha, porque Curitiba demonstra com seus indicadores sociais e epidemiológicos ser uma cidade que se compara às grandes cidades do primeiro mundo.
OE – Licitação do transporte, problema com a destinação do lixo e obtenção de recursos para a construção do metrô de Curitiba são os principais problemas que o senhor herda?
LD – Não são problemas. São situações administrativas bem encaminhadas. A questão do transporte coletivo, já estamos na parte final do processo licitatório, que deve ser concretizado em 45 dias.
A questão do lixo, penso que fizemos uma boa licitação, b,elo projeto para Curitiba e para o Brasil, que previa reciclagem e tratamento do lixo da cidade de Curitiba e da Região Metropolitana.
Infelizmente o processo foi para a Justiça por conta da disputa entre os grandes grupos interessados no processo licitatório e, por isso, Curitiba vai dar o encaminhamento adequado nos próximos 30 dias para que não haja problema com o encerramento do prazo da Caximba, em novembro. É uma solução de encaminhamento, independente da questão judicial.
OE – E o metrô? O senhor ainda acredita que dá para incluir no PAC 2, na forma como Curitiba pretende, a fundo perdido e não como financiamento?
LD – Vamos reivindicar. Curitiba está com seu projeto pronto. Acredito que ele esteja no pacote da mobilidade do PAC 2 e estamos aguardando agora uma convocação por parte do governo federal para apresentar nosso projeto em Brasília e termos a garantia de recurso para o nosso metrô no PAC 2, que deve estar previsto no orçamento de 2011.