Aos 81 anos, Francisco Dornelles (PP) assumiu o governo do Estado do Rio de Janeiro durante a licença de 30 dias do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que se trata de um câncer no sistema linfático, e encontrou uma “situação de tragédia”, como descreve. Diz que a penúria dos Estados está ligada à crise nacional, mas rejeita a tese do impeachment da presidente Dilma Rousseff, embora seja implacável com o PT. “O PT não sabe governar, todo governo do PT é um desastre. Mas ninguém faz oposição e baderna nas ruas tão bem quanto ele”, disse Dornelles ao jornal O Estado de S.Paulo. “Um afastamento pode começar um processo de baderna que tem que ser medido, principalmente se for feito um impeachment sem muita base. O PP tem que pensar em governabilidade”.

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No momento em que o PP discute o rompimento com o governo e recebe oferta para ocupar o Ministério da Saúde, o governador em exercício diz que a hora é de ficar com Dilma. “O PP não deveria sair do governo. Deveria ficar e fazer propostas para o governo recuperar credibilidade. Abandonar o barco em uma hora dessas não é o caminho desejado”. Ressaltou, no entanto, que o partido “não pode marcar posição em decorrência de cargos”. O PP ocupa o Ministério da Integração Nacional.

Ex-deputado, ex-senador, ex-secretário da Receita Federal e três vezes ministro, Dornelles tem bom relacionamento com políticos de várias tendências. Nas eleições de 2014, o PP do Rio apoiou o candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, primo de Dornelles. O vínculo com Aécio não impede o governador em exercício de rejeitar o impeachment, defendida pelo PSDB. “Não pode fazer impeachment na base da vontade de cada um. A hora é de deixar o fígado de lado e pensar em termos elevados. Impeachment só deve acontecer com causas muito claras. No exame superficial que fiz, não me parece que existam razões para esse impeachment.”

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Testemunha de momentos de grave crise no País, como a que levou ao suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954, a deposição de João Goulart pelos militares, dez anos depois, e o impeachment de Fernando Collor, em 1992, Dornelles diz que a mobilização popular não pode ser o único fator levado em conta pelos políticos ao decidirem sobre o impeachment. “No dia 23 de agosto de 1954 (véspera do suicídio de Vargas), todo o Brasil pedia a saída de Getúlio. No dia 25, Carlos Lacerda, que era o líder do movimento (oposicionista), se asilou na embaixada de Cuba e Getúlio tomou conta das ruas. Não estou dizendo que a situação é igual, mas mostrando que a opinião pública é muito volátil”, afirmou.

Dornelles diz que a Operação Lava Jato não deve cometer exageros, defende acordos de leniência que salvem as empresas investigadas e está convencido de que um serviço de inteligência eficiente poderia ter descoberto o esquema de corrupção na Petrobras e evitado que tomasse a dimensão revelada pelas investigações.

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Questionado sobre os políticos do PP investigados por suspeita de ligação com o esquema, ele disse que a punição deve atingir todos que tiverem participação comprovada. “Nunca podia imaginar na vida que houvesse um esquema na Petrobras nessa proporção. Deve haver punição muito rígida e muito dura contra os que participaram desse saque à Petrobras. Mas não acho justo punir as empresas. Vejo um viés antiempresarial que é perigoso.”

Embora reconheça os méritos da Lava Jato, Dornelles pede cuidado com excessos. “Alguns vazamentos têm sido exagerados, parece que existe vazamento de alguns e não de outros. Diria que há um vazamento seletivo que é muito ruim. Acho também que algumas prisões preventivas são muito longas, excederam o período necessário para investigação. Isso gera a impressão de que é um instrumento que obriga a delação premiada, que não pode ser instrumento de coerção”, criticou.

Dornelles elogiou Dilma, “pessoa séria, preocupada com o bem público, incapaz de tomar uma medida que a beneficiasse de forma pouco republicana”. Qualquer que seja o desfecho do processo do impeachment, ele defende um pacto pela governabilidade. “Seja a Dilma continuando ou Michel Temer assumindo, tem que esquecer o passado e fazer um governo de pacificação nacional, de entendimento, com um programa mínimo”, diz o ex-ministro, que defende um amplo programa de privatizações, concessões e Parcerias Público Privadas (PPPs).

O governador disse entender os protestos de servidores do Estado, que tiveram os salários atrasados em março e a segunda parcela do 13º dividida cinco vezes. “Eles têm toda razão, o problema é que não podemos fabricar dinheiro. É preciso mostrar a eles a situação caótica, com antecedência. Se tivermos que atrasar ou parcelar, temos que dar explicação e não gerar falsas expectativas.”