Já sem a certeza de que conseguirá entregar o Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas até o fim do mandato, o governo João Doria (PSDB) prepara um programa de transparência inédito para divulgação do andamento de obras, que inclui imagens diárias de drones e publicação de notas de pagamento na internet, para mostrar a retomada dos trabalhos e afastar a imagem de superfaturamento exposta pela Operação Lava Jato.

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Maior obra do Estado, com gasto já realizado na ordem de R$ 10 bilhões, o Rodoanel está paralisado desde o primeiro semestre do ano passado e sua conclusão deve implicar em um gasto extra de R$ 1,7 bilhão, totalizando R$ 11,7 bilhões. O valor é 30% maior do que os R$ 9 bilhões orçados inicialmente. A promessa da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) era de concluí-la em 2016.

Estimando lançar novos editais em fevereiro do ano que vem, o governo Doria calcula que sejam necessários entre 18 e 24 meses para que a rodovia fique pronta, o que estoura o calendário eleitoral de 2022. O governador pretende disputar a Presidência.

A retomada das obras caminha em duas frentes, uma de engenharia e outra de comunicação. Na frente de engenharia, a Secretaria Estadual de Logística e Transporte, que assumiu a gestão do Rodoanel com a extinção da estatal Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), aguarda os detalhes finais de um relatório do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para delimitar exatamente o que ainda precisa ser feito dos contratos originais da obra, assinados na gestão Alckmin.

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Arbitragem

Os seis lotes originais deverão ser relicitados com base no que falta fazer em cada trecho e novas empresas vão assumir os canteiros. Um dos pontos mais complexos está no Lote 6 (no lado leste da pista, próximo a Arujá), onde matacões (blocos de rocha compactados) que não haviam sido detectados anteriormente terão de ser retirados sem explosões, uma vez que ficam próximos de uma comunidade.

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Os superfaturamentos anteriores estavam justamente em serviços como remoção de matacões e de terraplenagem, segundo as investigações.

Todos os contratos, com as empresas Mendes Júnior, Isolux, Corsan, OAS, Acciona, Construcap e Copasa foram parar na Justiça, em processo de arbitragem. Parte dos contratos foi rescindida em dezembro, quando o Estado estava sob gestão de Márcio França (PSB) e os três contratos restantes foram rescindidos já no governo Doria.

As empresas argumentam que não receberam por todos os serviços executados e, ao todo, cobram do Estado cerca de R$ 900 milhões.

Já na frente de comunicação, o governo do Estado prepara uma central de monitoramento, que ficará no Lote 1 (próximo à Rodovia dos Bandeirantes). Ali, uma das ideias é colocar equipes de plantão para receber pessoas interessadas em acompanhar as obras, com carros à disposição para percorrer os canteiros.

Aplicativo

Além de imagens de drones e câmeras, que ficarão online, a central deve municiar um hotsite e um aplicativo, que darão acesso a todas as notas de pagamento a fornecedores da obra, com descrição de gastos.

O modelo é baseado em um sistema usado pela Prefeitura de São Paulo. Com isso, o Estado espera que interessados e a imprensa possam ter informações em tempo real, afastando suspeitas de que novos desvios possam ocorrer.

Essas frentes trabalham sob a sombra da Operação Lava Jato, que na sede da secretaria se faz presente com uma sala, instalada no térreo, em que o governo guarda os 31 mil documentos referentes à obra que estão à disposição dos procuradores da força-tarefa em São Paulo. Em agosto, a Procuradoria da República enviou ofício ao governo de São Paulo pedindo que nenhum papel relacionado à obra fosse destruído. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.