O prefeito de São Paulo, João Doria, que completou na sexta-feira a marca de seis meses à frente da capital, intensificou sua agenda nacional desde o acirramento da crise política em Brasília para se colocar como um quadro do PSDB, enquanto sua gestão enfrenta os primeiros desgastes. Desde a divulgação da conversa entre Joesley Batista, dono da JBS, e o presidente Michel Temer, no dia 17 de maio, o tucano participou de 15 fóruns, seminários ou jantares, além de seis encontros partidários – até essa data, haviam sido 19 eventos do tipo.

continua após a publicidade

Na pauta de Doria, estão temas não só relacionados às demandas municipais. Ao mesmo tempo em que trata de assuntos mais amplos na agenda nacional, o prefeito vê o surgimento de barreiras para a sua administração. Nesse período, na Câmara Municipal foi criado um grupo com 17 vereadores antes aliados que agora ameaçam dificultar a aprovação de seu pacote de concessões e privatizações.

continua após a publicidade

A lista de parlamentares em choque com Doria inclui correligionários, como Mario Covas Neto, presidente municipal do PSDB, e Patrícia Bezerra, que deixou o comando da Secretaria Municipal de Direitos Humanos por discordar das políticas do prefeito para a Cracolândia. A vereadora ainda protocolou um projeto com a proposta de plebiscito sobre as privatizações, o que pode atrasar o processo, uma promessa de campanha.

continua após a publicidade

Procurando não mostrar preocupação com os problemas caseiros, Doria segue seu roteiro de exposição nacional. O prefeito, que diz não representar os “cabeças brancas” nem os “cabeças pretas” (a ala jovem que defende renovação e a saída da base de Temer), comemora o fato de, aos poucos, começar a ser recebido por representantes de ambos os grupos que até pouco tempo atrás não lhe consultariam sobre os rumos para o PSDB.

O “divisor de águas”, na avaliação de Doria, foi o convite feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir a crise nacional em reunião no fim de maio, apesar dos recorrentes atritos entre os dois – há nove dias, FHC disse que Doria sabe fazer marketing, mas não mudou nada na cidade. Doria rebateu e afirmou que o ex-presidente deveria “sair de seu apartamento e visitar São Paulo”.

Na reunião convocada por FHC, foi a primeira vez, porém, que o “gestor paulistano” entrou nesse apartamento, em Higienópolis, no centro. E saiu de lá com discurso alinhado: “Os tucanos não devem ter compromisso com o governo, mas com o País”.

Decisivo. Desde então, Doria tem replicado o tom de cautela. Mais comedido do que de costume, o prefeito nem sequer abusa das críticas direcionadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Coincidência ou não, essa mudança de postura veio após o senador Aécio Neves (PSDB) ter sido gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley – e ter ficado mais de um mês afastado do Senado e ainda estar licenciado da presidência do partido. Insistir na crítica ao petista poderia levar o eleitorado a comparar ambos.

A atual postura de Doria foi considerada no partido decisiva para impedir o rompimento do PSDB paulista com o governo e evitar uma rebelião da bancada no Congresso. Ele foi incluído no seleto time de caciques consultados antes de decisões importantes da legenda pelo presidente interino, senador Tasso Jereissati (CE), e é cotado para integrar a Executiva nacional caso ocorra uma antecipação da convenção partidária.

Doria planeja começar a visitar o Nordeste em agosto, quando deve receber o título de cidadão honorário de Campina Grande (PB). É fato que boa parte dos tucanos ainda torce o nariz para as intenções de Doria, como José Serra, Alberto Goldman e o próprio FHC, mas ele continua em uma espécie de campanha velada, colocando-se cada vez mais como opção direta caso o governador paulista Geraldo Alckmin não seja o escolhido para 2018. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.