Campanha 'gorda'

Dono da UTC diz que deu R$ 600 mil a Luiz Argôlo

O dono da empreiteira UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, afirmou em depoimento na quinta-feira, 17, que deu R$ 600 mil ao ex-deputado Luiz Argôlo (ex-PP, hoje afastado do SD-BA) para campanha eleitoral de 2012, na Bahia. Segundo o executivo, os recursos saíram do caixa 2 da empresa, controlado pelo doleiro Alberto Youssef, personagem central da Operação Lava Jato.

“Eu fiz uma contribuição para Luiz Argôlo de R$ 150 mil para o partido, já era Solidariedade, eu acho. Eu dei também recursos a ele nessa fase de 2012 para que ele fizesse campanha dos prefeitos e vereadores ou coisa parecida”, disse o empreiteiro.

Ricardo Pessoa explicou as transações ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato. “Oficiais foram os R$ 150 mil para o partido ou para a campanha dele. O que ele fez em 2012 foi tudo em espécie, 3 ou 4 parcelas que totalizaram R$ 600 mil. Quem entregou foi Alberto Youssef. Eu tinha recursos de caixa 2 com Alberto Youssef, o volume era alto. Posso dizer que Alberto Youssef era quem guardava os recursos do caixa 2 da UTC. Era só dizer para Alberto que ele podia sacar e fornecer para o Luiz Argôlo.”

Presidente da UTC Engenharia, ele é apontado pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal como o presidente do ‘clube vip’ das empreiteiras que se apossaram de contratos bilionários da Petrobras entre 2004 e 2014. O empreiteiro é um dos delatores da Lava Jato.

Pessoa foi preso em novembro de 2014, na Operação Juízo Final, etapa da Lava Jato que derrubou o braço empresarial do esquema de propinas na estatal. O delator foi para regime domiciliar em março deste ano.

Luiz Argôlo está preso desde 10 de abril deste ano. Ele é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro e responde a uma ação penal na 13ª Vara Federal, em Curitiba, base da Lava Jato.

No depoimento, o executivo contou que conheceu Luiz Argôlo no fim de 2011 ou no início de 2012. Segundo ele, Alberto Youssef levou o então parlamentar à UTC.

“O deputado Luiz Argôlo era um deputado promissor, jovem, e foi com o Alberto lá conversar comigo e trocar ideias sobre política, sobre o que podia ser feito. Eu considerava, e considero, o Luiz Argôlo como um parlamentar que tivesse futuro, tinha boas ideias, era baiano. Depois que ele foi a primeira vez, na segunda vez eu já sabia que ele, filho do Manoelito Argôlo, tinha um reduto eleitoral no interior da Bahia que era interessante e tinha boas relações no Congresso. Eu resolvi me relacionar com ele”, contou Ricardo Pessoa.

O empreiteiro confirmou pagamento de propina à diretoria de Abastecimento da Petrobras, ligada ao PP – este partido com PT e PMDB são suspeitos de lotear diretorias da Petrobras para arrecadar propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel. O esquema instalado na estatal foi desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato. O executivo disse não saber se Luiz Argôlo era beneficiário da propina oriunda de contratos da estatal.

De acordo com o empreiteiro, Argôlo, cujo apelido seria Bebê Johnson, esteve em seu escritório “umas 5 ou 6 vezes” entre 2011 e 2014. Nos encontros, afirmou Ricardo Pessoa, eram tratados repasses da UTC para Argôlo.

“A conversa era a três, geralmente, na minha sala”, disse. “Eu acho que o próprio Luiz Argôlo também abordou sobre contribuições políticas até para aumentar seu reduto eleitoral com contribuições na eleição para prefeito. Nessa eleição para prefeito, ele queria aumentar a sua base, com vistas à reeleição em 2014.”

As audiências da 13ª Vara Criminal Federal, onde tramitam as ações sobre propinas na estatal, são filmadas. Os relatos das testemunhas e dos acusados são gravados em áudio e vídeo. No depoimento do empreiteiro, porém, a câmera aponta para o teto – a pedido da defesa de Pessoa, o rosto do executivo não é mostrado a partir do momento em que ele começa a delatar.

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