Dono da Labogen nega que Vargas intermediasse negócios

Em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, o empresário Leonardo Meirelles, dono do laboratório Labogen, negou que o deputado André Vargas (sem partido-PR) tenha atuado como um “agente” da empresa na intermediação dos negócios com o Ministério da Saúde. Ele reconheceu, no entanto, que se reuniu com Vargas na Câmara dos Deputados para apresentar o projeto da empresa.

“Mas não tinha e nunca houve acerto financeiro com o deputado André Vargas”, declarou o empresário, que é um dos investigados da Operação Lava Jato da Polícia Federal. O relator do processo por quebra de decoro parlamentar contra Vargas, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), viu no depoimento indícios de tráfico de influência. “Que houve tráfico de influência houve, quero saber de quem, quando e onde”, disse.

Meirelles admitiu ter sido apresentado ao deputado pelo doleiro Alberto Youssef (que está preso na carceragem da PF no Paraná) há cerca de um ano em São Paulo. Segundo ele, foi levado ao ex-petista a “proposta” do laboratório para o Ministério da Saúde e Vargas apenas “fez o encaminhamento técnico” à pasta. O empresário contou que embora não fosse amigo do deputado, eles se reuniram algumas vezes no gabinete da vice-presidência da Câmara, quando Vargas ainda ocupava a função de vice-presidente da Casa. O empresário disse que Marcus Moura, ex-assessor do Ministério da Saúde, foi indicado por seus sócios e negou que o ex-ministro Alexandre Padilha tenha participado da indicação.

Meirelles revelou que conhece o doleiro há aproximadamente quatro anos, quando buscava investidores para seu negócio. Ele admitiu que o doleiro fez um aporte de R$ 1,2 milhão à Labogen para engrossar o capital de giro e para a construção da nova fábrica em Indaiatuba (SP). Ele também relatou que as contas da empresa foram usadas para pagamentos de fornecedores de Youssef e que recebia 1% destes valores. Segundo ele, a Labogen fazia importação de insumos farmacêuticos. Ele rechaçou a tese de que seja sócio ou “laranja” do doleiro. “Youssef não é meu sócio e nunca foi meu sócio”, enfatizou.

De família de origem humilde da zona norte de São Paulo, Meirelles disse que quando comprou a Labogen, em 2008, o passivo do laboratório era de US$ 54 milhões, mas não explicou como conseguiu adquirir a empresa. Após as prisões da Operação Lava Jato, o empresário reclamou que o laboratório passa por dificuldades em virtude da suspensão de contrato com o Ministério da Saúde, da exposição do caso pela imprensa e do “abandono” de seus sócios. “Me sinto abandonado por todos que estavam no projeto. Quando digo abandono, é porque eu sou o lado mais fraco da história”, declarou.

Esdras Ferreira, proprietário de 10% do laboratório, também depôs no Conselho de Ética, mas se recusou a responder a maior parte das perguntas. Ele se limitou a dizer que não esteve em Brasília negociando contratos da Labogen, que não conhecia Alberto Youssef e que nunca esteve com André Vargas. “Esdras é laranja, não tenho a menor dúvida, não tem o menor conhecimento e condições de ser sócio de uma empresa que movimenta milhões. A Labogen existe para evadir divisas”, comentou Júlio Delgado .

Na avaliação do relator, as testemunhas vieram instruídas pelos advogados a “livrar” o deputado das acusações. “Ficou claro que eles vieram aqui orientados”, considerou Delgado. Na próxima semana serão ouvidas as testemunhas de defesa do ex-petista. O relator, que pretendia apresentar seu parecer antes do início do recesso parlamentar (18 de julho), já trabalha com a hipótese de votar o relatório só em agosto. Seu foco agora será demonstrar as contradições dos depoimentos e a ligação entre deputado e o doleiro. “Vamos fazer o link entre Vargas e Youssef”, afirmou.

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