Em depoimento por escrito encaminhado ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Bernardo Tosto, dono da empresa de aviação onde foi fretado o jatinho utilizado pelo deputado André Vargas (sem partido-PR) em dezembro passado, disse desconhecer o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal. Vargas admitiu que usou um avião pago por Youssef para uma viagem de férias com a família a João Pessoa (PB), mas o dono da Elite Aviation disse ao colegiado que “nunca ouviu falar” do doleiro.
Tosto respondeu a dez perguntas enviadas pelo deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo por quebra de decoro parlamentar contra Vargas. No depoimento por escrito, o empresário revelou que recebeu R$ 120 mil pelo serviço, mas não detalhou a quem foi emitida a nota fiscal. “Ele disse que nunca teve tratativas com o Youssef, que nunca viu Alberto Youssef”, contou o relator.
Delgado disse ver contradição na versão de Vargas e do empresário. Em abril, o deputado fez um discurso na tribuna da Câmara reconhecendo que havia cometido um “equívoco” ao usar uma aeronave emprestada pelo doleiro. “As respostas do dono da empresa são contraditórias com o que ele falou”, comentou o relator.
A defesa de Vargas vem reclamando do trâmite no Conselho de Ética e estuda a possibilidade de judicializar o processo. Para a defesa, o colegiado vem cerceando o direito de acesso ao inquérito encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao Conselho nesta semana e o relator tem dado sinais de antecipação de posições. “Se tiver efeito suspensivo (na Justiça), ficará claro que será um ato de protelação do processo”, considerou Delgado.
Pressa
O relator tem até 30 de julho para apresentar seu relatório. A ideia era votar o parecer no Conselho de Ética antes do recesso parlamentar (18 de julho), mas Delgado já trabalha com a possibilidade de concluir o processo só em agosto.
Vargas criticou a celeridade do processo contra ele, disse que a pressa pode levar o colegiado a cometer “ilegalidades” e isso poderia levá-lo a recorrer a uma ação judicial. “A pressa é inimiga da legalidade”, disse.
Nesta semana, o Conselho ouviu Leonardo Meirelles e Esdras Ferreira, donos da Labogen. Meirelles afirmou que o deputado o recebeu na Câmara dos Deputados e o encaminhou ao Ministério da Saúde para que a empresa apresentasse seu projeto. Esdras respondeu a poucas perguntas, mas Meirelles falou das relações com o doleiro e negou que o deputado atuasse como “agente” da Labogen junto ao governo federal. “Todos os três depoimentos das testemunhas de acusação confirmam meu discurso no plenário”, concluiu Vargas.
Está programada para a próxima semana a oitiva das oito testemunhas de defesa arroladas no processo. Youssef, que está na lista das testemunhas de acusação e de defesa, informou à Justiça que não tem interesse em falar ao Conselho de Ética.