Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito das ONGs, hoje, no Senado, o doleiro Lúcio Bolonha Funaro afirmou que o tesoureiro do PT e ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), João Vaccari Neto, tem uma “relação umbilical” com o grupo Schahin. Segundo Funaro, a Schahin é “alvo de uma série de investigações do Ministério Público, da Justiça Federal e da Polícia Civil paulista como um dos grupos que cometeram as maiores fraudes financeiras nos últimos anos”.
O doleiro foi convidado a depor na CPI porque, segunda a revista Veja, teria afirmado a procuradores que Vaccari cobrava propina de investidores interessados em fazer negócios com fundos de pensão estatais. Hoje, porém, ele se negou a falar sobre a suposta propina, dizendo que seguia orientação de seus advogados. Ele aproveitou o depoimento para fazer acusações contra o grupo Schahin, com o qual uma empresa que ele representa está em litígio legal.
Durante uma hora e meia de depoimento, Funaro afirmou que aceita participar de uma acareação com o tesoureiro do PT e contou que se encontrou com Vaccari “algumas vezes” e não uma única vez, como havia dito o petista em depoimento à mesma comissão. “Não conversei com o Vaccari sobre Bancoop nem sobre PT. Não tenho nada com o PT ou com qualquer partido político. O que eu posso falar é que os encontros que tive com ele foram sobre operações financeiras”, afirmou. Vaccari é investigado pelo Ministério Público de São Paulo por suspeita de desvios de recursos da cooperativa para campanhas petistas e irregularidades na aplicação de dinheiro de fundos de pensão.
O Grupo Schahin, disse Funaro, tem hoje, só com a Petrobras, US$ 7 bilhões em contratos. “Os contratos têm todo tipo de problema como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e conta laranja”, acusou. Em seguida, o doleiro entregou ao presidente da CPI, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), uma série de documentos sobre o grupo. A CPI informou que encaminharia à documentação ao Ministério Público Federal.
Funaro também relatou que uma offshore com sede em Delaware, nos Estados Unidos, tem os mesmos acionistas que o grupo Schahin. A offshore teria recebido da Petrobras, segundo Funaro, US$ 1,5 bilhão, e repassado apenas US$ 10 por ano para a empresa no Brasil para não pagar imposto. O doleiro ainda admitiu que é representante no Brasil da britânica Gallway, controladora da Centrais Elétricas Belém (Cebel), que ainda contabiliza os prejuízos com a queda da barragem no rio Apertadinho, em Vilhena (RO), em 2008. A empresa pede na Justiça indenização de R$ 600 milhões ao consórcio Vilhena, formado pela Schahin e pela Empresa Industrial e Técnica (EIT). “São fatos, não são denúncias”, insistiu.
Autor do convite a Funaro para depor na CPI, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que o doleiro fez denúncias graves e que é preciso investigação rigorosa. “Pode até ser que a autoridade dele seja questionada, mas não se pode ignorar as denúncias feitas nem fazer vista grossa”, disse o tucano.
Outro lado
Em nota, a Petrobras refutou as insinuações de irregularidades no afretamento e operação da plataforma TBN-1. O contrato foi celebrado com a empresa Airosaru Drilling LLC, no valor de US$ 1,5 bilhão, tendo a Schahin Petróleo e Gás assinado o mesmo contrato como interveniente, informou a Petrobrás. O contrato de operação da mesma plataforma, no valor de R$ 292 milhões, também foi firmado diretamente pela Petrobras, ao contrário do que foi afirmado na comissão. Ele envolve as mesmas empresas, sendo a Schahin Petróleo e Gás responsável pela operação e a Airosaru Drilling LLC interveniente.
Os desembolsos nos dois contratos só serão realizados pela Petrobras após a entrega da plataforma à companhia, prevista para maio de 2011. A Petrobras ressalta que todos seus contratos seguem a legislação brasileira e internacional aplicáveis. Também em nota, a Schahin afirmou que “os fatos relatados por ele, Funaro, não guardam relação alguma com o objeto da CPI e são rigorosamente falsos”.
O advogado de Vaccari, Luiz Flávio D’Urso, afirmou que Vaccari vai comparecer à acareação se for convocado. “O Vaccari não tem receio”, disse. Sobre as acusações que Funaro fez em relação à uma suposta relação do petista com a Schahin o advogado classificou como “bobagem”. “Isso não procede”, disse D’Urso. Vaccari tem novo depoimento marcado na CPI no dia 4 de maio.