O deputado federal José Janene (PP) deixou ontem a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, onde estava internado para exames que vão indicar se ele poderá ser submetido ao implante de células-tronco para tratar uma doença cardíaca, denominada miocardiopatia dilatada idiopática (de causa não esclarecida).
Janene retornará a Curitiba na próxima semana para continuar a avaliação, que está sendo realizada pelo coordenador do Núcleo de Miocardiopatia Celular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), o médico Paulo Brofman.
Em razão da doença, Janene apresentou um pedido de aposentadoria por invalidez na Câmara Federal. Ele é um dos acusados de ser o operador do esquema do mensalão, denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). Janene está sendo processado no Conselho de Ética por quebra de decoro e pode ter seu mandato cassado, caso não renuncie antes. Em entrevista à Agência Globo, o deputado negou que o pedido de aposentadoria seja uma manobra para escapar à cassação. "Eu até poderia pedir licença médica para resolver meu problema, mas não vou pedir. Vou aguardar meu processo que está na Corregedoria", afirmou.
Janene foi obrigado a interromper a bateria de exames ontem porque o médico detectou um desequilíbrio da função cardíaca. Conforme Brofman, a dose da medicação do deputado foi aumentada e assim que ele se recuperar, volta à Santa Casa. O cardiologista afirmou que somente após a conclusão dos exames é que saberá se o deputado poderá ser submetido ao tratamento que está sendo realizado em humanos desde abril deste ano, em Curitiba, pela equipe de Brofman, que trabalha com a técnica há quatro anos.
O médico esclareceu que a doença de Janene é evolutiva e que seu quadro é grave. Segundo explicou Brofman, o deputado já recorreu a todos os tratamentos disponíveis e que, agora, teria que fazer um transplante de coração. O implante de células-tronco poderia ser uma alternativa ao transplante. Por enquanto, a eficácia do tratamento é comprovada parcialmente, disse o médico, esclarecendo que não é conhecido o resultado a longo prazo.
Conforme Brofman, se houver condições para o transplante em Janene, será necessário ainda obter a autorização do Conselho Regional de Medicina. A autorização do núcleo de Brofman para aplicar a técnica dada pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde, que regulamenta os procedimentos experimentais, serve apenas para os pacientes inscritos em um programa de tratamento coletivo. Como se trata de um caso individual, o CRM tem que fornecer seu aval.
O médico explicou que o tratamento recomenda o afastamento de Janene das atividades parlamentares, durante alguns meses. Mas depende de como será sua reação ao tratamento, cujos benefícios devem se fazer sentir três meses depois após o implante, afirmou o cardiologista, a quem Janene foi encaminhado por seu médico particular Eli Lebbos. Janene não pode pedir aposentadoria proporcional porque, embora tenha mais que o mínimo de oito anos de mandato exigidos, ele não tem sessenta anos, a idade mínima estipulada pela Câmara. O deputado do PP tem cinqüenta anos.